Presidente do BC diz que quadro fiscal evita descontrole da dívida
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse hoje (05) que o quadro fiscal anunciado na semana passada evitará o descontrole da dívida pública. “O que foi feito até agora elimina o risco de cauda para quem achava que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva”, disse ele ao falar em evento promovido pelo banco Bradesco, na capital paulista.
Neto disse ter uma avaliação “superpositiva” das novas regras que devem substituir o teto de gastos e que reconhece o “esforço” da equipe econômica do governo federal.
O presidente da autoridade monetária ponderou, porém, que ainda é preciso saber se o texto sofrerá alterações no Congresso Nacional. “Acho que ainda existe uma certa ansiedade por parte das receitas, e precisamos ver como isso vai passar pelo Congresso”, acrescentou.
nova regra
A nova regra tributária limitará o crescimento das despesas a 70% da variação da receita dos 12 meses anteriores. O novo arcabouço combinará um limite de gastos mais flexível que o teto de gastos com uma meta de resultado primário (resultado das contas públicas sem juros da dívida pública).
Dentro desse percentual de 70%, haverá um limite superior e um piso, uma faixa, para a oscilação da despesa, descontando o efeito da inflação.
Em tempos de maior crescimento econômico, as despesas não podem crescer mais de 2,5% ao ano acima da inflação. Em tempos de contração econômica, os gastos não podem crescer mais de 0,6% ao ano acima da inflação.
Inflação
Em outro evento, promovido pela Esfera Brasil, Campos Neto disse que a inflação no Brasil, que tem dificultado a redução da taxa básica de juros, tem parte de sua origem no aumento da demanda por produtos. “Temos a linha de serviços voltando, o consumo de serviços voltou à linha de tendência. Mas a mercadoria, não. Está muito acima da linha de tendência. Você teve um deslocamento de demanda por bens que foi estrutural”, analisou.
Segundo ele, essas pressões inflacionárias acabam se refletindo em outras áreas, como o mercado de energia. “Se eu tenho um aumento da demanda de bens que é estrutural, também tenho um aumento da demanda de energia que é estrutural. Porque para o mesmo valor acrescentado de bens, consumo quase cinco vezes mais energia do que serviços”, disse.
O presidente do Banco Central atribuiu, em parte, esse movimento aos benefícios concedidos para conter os efeitos da pandemia de covid-19 na economia. “Muito dinheiro foi colocado em circulação por meio de benefícios monetários e fiscais. Só os impostos somaram R$ 9 trilhões numa economia de R$ 80 trilhões, mais de 10%”, apontou.
Campos Neto defendeu a política monetária, que tem mantido a taxa básica de juros em patamar elevado para conter a inflação. “Tentamos suavizar o ciclo. Estamos ansiosos. Entendemos que os juros altos causam esses impactos na parte produtiva. Procuramos amenizar isso, porque nosso trabalho é fazer isso de forma a causar o menor dano possível à economia”, destacou.
Segundo ele, apesar das dificuldades causadas na economia no momento, a política monetária evita problemas maiores no futuro. “O custo do combate à inflação é muito alto e se faz sentir no curto prazo. O custo de não lutar é muito maior e é muito mais prejudicial e duradouro.”