Haddad defende abertura da “caixa preta” das isenções fiscais

Haddad defende abertura da “caixa preta” das isenções fiscais
Haddad defende abertura da “caixa preta” das isenções fiscais

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que é preciso “abrir a caixa-preta” das renúncias fiscais e discutir com a sociedade para onde estão indo os recursos públicos no Brasil. Segundo o ministro, a reforma fiscal é uma medida necessária para aumentar a receita e contribuir para a redução do défice das contas públicas, sem comprometer a prestação de serviços públicos aos cidadãos.
Haddad participou, nesta quinta-feira (27), do plenário do Senado Federal, da sessão de debate sobre juros, inflação e crescimento econômico, solicitado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Além do poder público, o evento reúne representantes de entidades do setor produtivo.

“Estamos falando de quase R$ 500 bilhões explícitos na peça orçamentária da renúncia fiscal e outros R$ 100 bilhões que não estão na lei orçamentária por serem impostos, que nem são considerados para fins tributários devido à frouxidão da nossa legislação com práticas que são absolutamente inadequados e inaceitáveis ​​no mundo desenvolvido. Então, é preciso falar em corte de custos? Em nossa opinião, sim, principalmente os gastos tributários”, disse ela.

Para o ministro, o sistema tributário brasileiro é responsável por grande parte da ineficiência da economia. “Não temos ganhos de produtividade, porque nem sempre os produtores mais eficientes conseguem resistir à concorrência desleal, e perde-se competitividade, continua-se a expulsar do mercado quem produz melhor, com mais eficiência, com compromisso social, com cumprimento de suas obrigações. Portanto, a reforma tributária também não é uma questão secundária”, disse Haddad.

Por isso, o governo priorizou a reforma tributária, disse o ministro. “Essa é uma reivindicação antiga dos liberais e desenvolvimentistas (economistas), um olhar voltado para a questão da eficiência, a desordem em que se tornou o sistema tributário brasileiro, uma colcha de retalhos absolutamente ingovernável, com litígios intermináveis, principalmente na esfera estadual. “, ele adicionou.

Haddad mencionou um processo na Justiça sobre a saque de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) da base de cálculo do PIS/Cofins (Programa de Integração Social/Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), que suprimiu cerca de R$ 100 bilhões das receitas primárias do governo federal. Outra decisão foi revisão vitalícia das pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o que pode impactar os cofres federais em mais de R$ 360 milhões.

“O que se gabou de economia com aquela reforma da previdência, da ordem de R$ 1 trilhão em 10 anos, evaporou com duas medidas do Judiciário”, disse Haddad, comentando a gravidade dos conflitos distributivos no Brasil. “Não vamos resolver os problemas sociais e a necessidade urgente de investimento em nossa matriz produtiva sem recuperar a capacidade de o Estado brasileiro voltar a investir”, acrescentou.

Segundo Haddad, por conta do processo eleitoral, o governo anterior promoveu, em 2022, um gasto de R$ 300 milhões, entre renúncia de receitas e aumento de despesas. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição garantiu recursos para a continuidade dos programas sociais, e um novo arcabouço fiscal foi enviado ao Congresso para substituir o teto de gastos.

Para o ministro, a nova regra é considerada mais saudável do ponto de vista da rigidez das contas públicas, “mas dando condições para que investidores estrangeiros e nacionais acreditem no enorme potencial da economia brasileira, que só completou 10 anos com crescimento muito abaixo do seu potencial efetivo.

Política monetária

Nesse sentido, o nível da taxa Selic (juros básicos da economia) é motivo de Divergência entre o governo federal e o Banco Central (BC). Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumenta a taxa básica de juros, o objetivo é conter a demanda aquecida e reduzir a inflação, e isso afeta os preços porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.

A Selic está no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. No mês passado, pela quinta vez consecutiva, o Banco Central não alterou a taxa, que se mantém nesse patamar desde agosto do ano passado.

O ministro destacou, porém, que as políticas fiscal (que cuida da receita e dos gastos públicos) e monetária (juros para conter a inflação) partem da mesma marcha. “Se a economia continuar desacelerando por motivos relacionados à política monetária, teremos problemas fiscais porque a arrecadação será impactada”, afirmou.

A sessão do Senado também contou com a presença do Presidente do BC Roberto Campos Netoque defendeu as decisões técnicas do município.

Para o ministro Fernando Haddad, o governo está fazendo a sua parte, inclusive tomando medidas impopulares, para sanear as contas públicas e permitir um horizonte de planejamento mais longo e o crescimento sustentável do país.

No mesmo sentido, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, destacou que não há contradição entre a visão do Banco Central, sobre a relação entre juros e inflação, e do governo federal, sobre a relação entre taxas de juros e o crescimento econômico.

Brasília (DF) 27/04/2023 Ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet;  e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante sessão de debates temáticos para discutir juros, inflação e crescimento.  Foto Lula Marques/ Agência Brasil
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, em sessão de debate no plenário do Senado – Lula Marques/Agência Brasil

“Mas o Banco Central também não pode considerar que suas ações, que são técnicas, interferem também na política, principalmente no seus comunicados e suas atas“, ele disse. Para Simone Tebet, não se pode descuidar muito da inflação, que é o imposto mais perverso pago no Brasil. Por outro lado, não há contradição em querer uma economia mais forte, gerando emprego e renda com crescimento sustentável, afirmou.

Para o ministro, é preciso combater as causas da inflação, que incluem fatores externos. Internamente, porém, o governo “está fazendo a sua parte” para combater a instabilidade econômica, com a apresentação de medidas como o quadro fiscal e a reforma tributária, e para criar um cenário que possibilite a queda dos juros.

diferenças sociais

Simone Tebet disse que, neste momento, é importante olhar para o aspecto social, já que o Brasil está entre os dez países com mais desigualdade no mundo. “A desigualdade é estrutural e perversa”, disse ela. “A face mais pobre do país vai se refletir muito diretamente no futuro do Brasil, que são nossos filhos. Pagam um preço muito alto, a miséria começa na primeira infância e se consolida no ensino médio, na juventude”.

Nesse sentido, é preciso garantir investimentos para maior crescimento e produtividade, acrescentou o ministro. “O Brasil cresceu muito pouco nas últimas décadas, menos de 1% em média nas últimas três décadas, algo muito errado”, disse Simone, argumentando que é preciso equilíbrio e racionalidade e políticas econômicas precisas para planejar o futuro do médio e longo prazo.

“Temos que fazer o dever de casa. Sabemos que não podemos gastar mais do que arrecadamos e que temos que zerar o déficit público nos próximos anos, e nossa meta é zerá-lo em 2024. um debate responsável sobre a reforma tributária. “Vai garantir o crescimento sustentável e duradouro do Brasil, vai impactar imediatamente no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país)”, acrescentou.

Em seu discurso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, destacou o papel da Câmara na garantia do crescimento econômico e na redução das desigualdades. “Precisamos construir caminhos e apresentar soluções para evitar a perda do poder de compra da população brasileira e garantir o crescimento sustentável da economia”, afirmou.

Na opinião de Pacheco, manter os juros altos por mais tempo, ao mesmo tempo em que dá segurança quanto às metas de inflação e controle de preços, também compromete o crédito, os investimentos privados e o crescimento de curto prazo, “obstruindo o desenvolvimento e a erradicação da pobreza e (manutenção) da marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais”.

“Entendemos perfeitamente que os agentes econômicos trabalham com expectativas e essas expectativas impactam os rumos da economia. Além disso, a população brasileira, que em sua grande maioria ocupa os estratos mais pobres da economia, também espera suprir suas necessidades, ter acesso a alimentação, saúde, educação, trabalho, moradia, transporte, lazer e muitos outros serviços sociais direitos. Portanto, é preciso buscar esse equilíbrio de expectativas”, acrescentou Pacheco.

Foto de © Lula Marques/ Agência Brasil
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