Marina Silva: decisão contra licença da Petrobras será respeitada
A ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, afirmou nesta terça-feira (23) que o governo federal vai respeitar a decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de rejeitar Solicitação da Petrobras para realização de atividades de perfuração offshore na bacia da Foz do Rio Amazonas, entre o Pará e o Amapá. A licença foi negada oficialmente na semana passada, e o caso gerou grande repercussão política, com críticas de aliados do governo, como o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Senado.
O objetivo da Petrobras era avaliar a existência de jazidas de petróleo no litoral do Amapá, próximo à foz do rio Amazonas, que poderiam gerar investimentos e pagamento de royalties ao estado no futuro.
“A opinião do Ibama, considerando a posição unânime de dez técnicos que analisaram o pedido de licença para perfuração de um poço exploratório, foi contrária. A partir de agora, o que está estabelecido é o cumprimento da lei”, afirmou o ministro, após encontro com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, no Palácio do Planalto. Ela estava acompanhada do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho.
Segundo Marina Silva, a equipe técnica que elaborou o parecer entendeu que a Petrobras não apresentou o levantamento ambiental da área sedimentar (AAAS). Esta avaliação, prevista em portaria em vigor desde 2012, permite identificar áreas onde não seria possível realizar atividades de extração e produção de petróleo e gás devido aos graves riscos e impactos ambientais associados.
“É uma decisão técnica, e a decisão técnica em um governo republicano e democrático é cumprida e respeitada, com base em evidências. Foi uma reunião justamente para trazer provas. , envolvendo processos de licenciamento, terão que cumprir essa exigência, que foi estabelecida pelo próprio governo em 2012”.
manguezais e parques
Segundo o presidente do Ibama, a área de pesquisa solicitada pela Petrobras fica a 189 quilômetros do município de Oiapoque, no Amapá, e a cerca de 900 quilômetros de Belém, onde seria montada a base logística de exploração. A região possui complexidade ambiental extremamente delicada para comprovar a viabilidade de um projeto de exploração de petróleo.
“Temos naquela região três terras indígenas, dois parques nacionais, temos 80% das áreas de mangue do país. Temos as correntes de água do próprio rio Amazonas e as correntes marinhas do norte do país. Uma região (em) que não é fácil provar a viabilidade”, disse.
Agostinho destacou que não houve pressão para a concessão da licença e que o órgão ambiental continuará atuando de forma técnica.
“O Ibama vai continuar fazendo o trabalho técnico ambiental de avaliar a viabilidade ou não. Já emitimos, este ano, 23 licenças para a Petrobras – essas licenças têm viabilidade ambiental comprovada. Nesse caso específico, para a região denominada Foz do Amazonas, por uma série de motivos técnicos, o Ibama não concedeu”, disse Agostinho.
Nova Licença
Ainda segundo Agostinho, o Ibama pediu à Petrobras oito adicionais e, mesmo assim, não foram suficientes para testar a viabilidade do projeto. Apesar da licença negada, a Petrobras pode entrar com um novo pedido, que será analisado do zero.
“Se uma licença é negada, ela é negada. O empresário tem o direito de apresentá-lo quantas vezes quiser, e ele será analisado. É um processo que vai começar do zero, caso seja apresentada outra licença”, disse Marina Silva.
Petrobras
O processo de licenciamento ambiental do bloco da Bacia da Foz do Amazonas, tecnicamente denominado FZA-M-59, teve início em 4 de abril de 2014, a pedido da BP Energy do Brasil, empresa originalmente responsável pelo projeto. Em dezembro de 2020, os direitos de exploração de petróleo no bloco foram transferidos para a Petrobras.
Em nota, na semana passada, a Petrobras afirmou ter ficado surpresa com a decisão e que as condicionantes originalmente impostas pelo Ibama foram integralmente atendidas. A empresa também afirmou que o instituto havia reconhecido que não havia base legal para a cobrança de uma avaliação ambiental como condição para a emissão de uma licença de operação para perfuração.
A empresa disse ainda que, em setembro de 2022, o Ibama sinalizou que a única pendência para a realização da avaliação pré-operacional seria a apresentação da licença de operação do Centro de Recuperação de Fauna em Belém e vistorias da sonda de perfuração e embarcações de apoio .
Segundo a nota, o Ibama fiscalizou e aprovou o centro de despetrolização e recuperação da fauna em fevereiro de 2023. A Petrobras disse ainda que o tempo de resposta para atendimento à fauna, em caso de vazamento, atende aos requisitos estabelecidos no Manual de Boas Práticas do Ibama para o manejo da fauna afetada por óleo e que a licença em questão se restringe à perfuração de poço com o objetivo de verificar a “existência ou não de jazida de óleo na Margem Equatorial”.
“Portanto, somente após a perfuração deste poço é que se confirmará o potencial do ativo, a existência e o perfil de qualquer jazida. A Petrobras apenas solicitou a licença para perfurar o poço e, para isso, apresentou todos os estudos e projetos necessários. Em caso de confirmação do potencial da reserva, será realizado outro processo de licenciamento”, refere a nota.