Ata do Copom reforça possibilidade de alta de juros
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reforçou a possibilidade de elevação da taxa Selic, taxa básica de juros da economia, caso o processo de desinflação não ocorra conforme o esperado. A instituição diz que “mantém-se vigilante”, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa por um período prolongado será capaz de garantir a convergência da inflação.
“O Comitê reforça que vai perseverar até que não só o processo de desinflação seja consolidado, mas também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que apresentaram maior deterioração, principalmente em prazos mais longos”, diz a ata da última reunião do Copom, divulgada nesta terça-feira (28).
O encontro aconteceu na semana passada e, na ocasião, o colegiado manteve a Selic em 13,75% pela quinta vez consecutiva. A taxa está em 13,75% desde agosto do ano passado, o maior patamar desde janeiro de 2017, quando também estava neste patamar.
Anteriormente, o Copom elevou a taxa Selic 12 vezes seguidas, em um ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle e, mais uma vez, o comitê afirmou que não hesitará em retomar o ciclo de aperto monetário.
Por outro lado, a alta da taxa Selic leva à desaceleração da economia e à redução dos investimentos e, por isso, a decisão do BC tem sido criticado pelo governo federal.
Politica fiscal
Ata do Copom menciona incertezas quanto ao futuro quadro fiscal em desenvolvimento pelo Ministério das Finanças, mas elogia o recente reconstituição parcial da gasolina e do etanol. “A comissão avalia que o empenho na implementação do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério das Finanças, e já identificado nas estatísticas fiscais e na recarga de combustível, mitiga os estímulos fiscais à demanda, reduzindo o risco de alta da inflação no curto prazo. ”, diz o documento.
O BC destaca que não há relação mecânica entre a convergência da inflação e a apresentação do quadro fiscal, pois a primeira reage às expectativas de inflação, projeções da dívida pública e preços de ativos. Ainda assim, de acordo com o Copom, a harmonia entre as políticas monetária e fiscal reduz as distorções de mercado, reduz a incerteza, facilita o processo de desinflação e estimula o pleno emprego ao longo do tempo.
“O comitê destaca que a materialização de um cenário com quadro fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno por meio de seu efeito no canal das expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado à crise doméstica ativos”, diz o documento. “Nesse sentido, o comitê reforça a importância da concessão de crédito, público e privado, para manter taxas competitivas e sensíveis à taxa básica de juros”, acrescenta.
Para a agência, o cenário básico para a inflação envolve fatores de risco nas duas direções. Entre os riscos ascendentes, além da elevada incerteza sobre o futuro do quadro fiscal do país e seus impactos sobre a dívida pública, está uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e um desestímulo maior, ou mais duradouro, das expectativas de inflação para prazos mais longos . longo.
Entre os riscos negativos, o Copom destaca queda adicional nos preços internacionais das commodities (produtos primários) em moeda local, desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que o projetado e desaceleração do crédito doméstico acima do compatível com o atual estágio de o ciclo da política monetária.
cenário econômico
O Copom informou que o ambiente internacional piorou desde a última reunião do órgão, em fevereiro, com bancos nos Estados Unidos e na Europa em dificuldades e com inflação persistente na maioria dos países. “A política monetária nas economias centrais continua avançando em uma trajetória contracionista. O ambiente externo segue marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial”, diz a ata.
Na economia doméstica, a desaceleração econômica continua, conforme esperado, e as expectativas de inflação seguem acima do teto da meta. Um aperto adicional também pode ser observado nas condições de concessão de crédito em algumas modalidades.
“Após um período de forte recuperação nos últimos dois anos, iniciou-se um processo de desaceleração do crescimento do setor de bens duráveis, que havia sido particularmente impulsionado na pandemia, e que está mais sensível à política de juros. A desaceleração estendeu-se ao setor de bens não duráveis e, posteriormente, ao setor de serviços, ainda que de forma mais branda. O Copom continua avaliando que a atual desaceleração econômica é necessária para garantir a convergência da inflação às suas metas, principalmente após um período prolongado de inflação acima da meta”, diz a ata.
Projeções
Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação é de 3,25% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 1,75% e o limite superior é de 4,75%.
As projeções de inflação do Copom são de 5,8% para 2023 e 3,6% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,2% para 2023 e 5,3% para 2024. trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, a projeção de inflação acumulada em 12 meses é de 3,8%.
O Copom também adotou a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2023 e 2024, além da taxa de câmbio começar em R$ 5,25 e o preço do petróleo seguir a curva ascendente pelos próximos seis meses e subir 2% ao ano posteriormente.
A projeção do BC para a inflação de 2024 também está acima do centro da meta prevista – 3%, mas ainda dentro da faixa de tolerância de 1,5 ponto percentual.
O comitê avalia que a dinâmica da desinflação segue em duas etapas distintas, a primeira, já encerrada, com maior velocidade de desinflação e a segunda, com menor velocidade. “Tal processo exige serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação às suas metas”, argumentou o Banco Central.
Adicionalmente, de acordo com o Copom, o comportamento das expectativas é aspecto fundamental do processo inflacionário, pois afeta a definição de preços e salários atuais e futuros. “À medida que se projeta uma inflação mais alta à frente, as empresas e os trabalhadores passam a incorporar essa inflação futura em seus reajustes de preços e salários. Assim, há uma alta maior de preços no período atual, e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas.”