Atraso causou diferença entre previsão e resultado final do censo

Atraso causou diferença entre previsão e resultado final do censo
Atraso causou diferença entre previsão e resultado final do censo

O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo (foto), afirmou nesta sexta-feira (30) que a falta de atualização dos dados antes da coleta feita para o Censo 2022/2023 é a explicação para a diferença entre a população total divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quarta-feira (28) e as estimativas apresentadas anteriormente pelo próprio órgão.
Em dezembro do ano passado, o IBGE calculou que o Brasil tinha 207,8 milhões de habitantes e, em 2021, estimou o total em 213,3 milhões. No entanto, o Censo Demográfico 2022/2023 mostrou que a população brasileira atual é de 203 milhões, 62 mil e 512 pessoas, com base na data de referência, 31 de julho de 2022. O total registrado no último levantamento censitário foi menor do que o esperado, apesar do aumento de 12 milhões, 306 mil e 713 pessoas, 6,5% a mais, na comparação com o Censo 2010. Naquele momento, eram 190 milhões, 755 mil e 799 mil residentes no país.

No caso da edição 2022/2023, para além do atraso, uma vez que o recenseamento deveria ter sido feito em 2020, não houve contagem da população que costuma ser feita a meio da década. Com isso, os dados não são mais atualizados, explicou Cimar Azeredo.

“A última vez que fizemos um censo no IBGE foi em 2010. A última contagem da população foi em 2010. A contagem deveria ter sido feita em 2015, mas não foi feita. O governo não forneceu recursos para o IBGE fazer essa contagem. A conclusão disso é que chegamos em 2022 com o cadastro desatualizado, muito desatualizado e, portanto, estimamos diferente do que realmente aconteceu agora”, disse Azeredo em entrevista ao Agência Brasil.

O vice-presidente do IBGE informou que todo censo é feito com base nas informações da edição anterior. “A estrutura de uma estimativa é variar o Censo de 2000 a 2010. Esse avanço, essa tendência de crescimento será replicada na próxima década. Se um município cresceu, eu vou replicar esse crescimento e adicionar os movimentos dos componentes demográficos, como migração, fecundidade, mortalidade. Mas o método implica que, em meados da década, haja uma contagem.”

Azeredo citou como exemplo de mudanças populacionais que podem ocorrer entre duas edições do censo o caso de um município que teve crescimento forte e acelerado em decorrência da instalação de uma indústria no local ou, ao contrário, se uma indústria saiu a cidade.

Ele disse que a ausência da contagem de meados da década causou um desvio muito grande da estimativa e das projeções em relação à população realmente contabilizada no censo.

“Temos uma contagem hoje. A última foi feita em 2010 e, como o nome diz, foi uma estimativa. Claro que um censo tem um erro embutido, como (em) toda operação, é inerente à operação censitária, mas, efetivamente, a população oficial do Brasil é a população contada, porque é o melhor método para se obter a total. Aqui vai uma lição: não se esqueça de contar o meio da década. Por isso, o IBGE hoje defende que, em 2025, façamos a conta, para que em 2030 não estejamos aqui discutindo o mesmo assunto”, acrescentou.

“Isso (pesquisa censitária), além de estar muito longe da última contagem, o que não deveria ter acontecido – nos afastamos de 2010 e não fizemos o censo em 2020, não fizemos em 2021, ou seja, em além de não fazer a contagem, nos afastamos 12 anos do último censo. Assim, a estimativa chega com menos precisão e mais distante do último censo. Ela é um número ruim? Não, é o melhor número que temos no momento. É por isso que tomamos a decisão de usar a visualização. A estimativa ou a previsão? Essa foi a escolha em dezembro”, disse.

Azeredo lembrou que o censo foi feito após o período da pandemia de covid-19 e que isso se reflete nos dados. “Fazer um censo depois da pandemia e querer que o Brasil esteja no mesmo formato é impossível. A população muda, a estrutura etária muda. Temos que ver como a população está se espalhando pelo território.”

“Temos que falar de trabalho remoto, temos que falar de teletrabalho, uma mudança incrível no mercado de trabalho. É importante analisar essas informações, com base no que aconteceu com a população brasileira após a pandemia e quais políticas podem ser desenvolvidas. O Brasil não pode se desenvolver, ou crescer, por qualquer motivo, exceto por falta de informação. Temos informações fundamentais nos menores níveis geográficos disponíveis”, acrescentou.

Segundo Azeredo, entre as informações agora disponíveis, estão o acesso de crianças e adolescentes às escolas, informações do mercado de trabalho para avaliar, principalmente onde é necessário instalar empresas ou indústrias para aumentar a população no mercado de trabalho, e também segurança pública. .

Segundo o IBGE, o aumento de 12 milhões, 306 mil e 713 pessoas em relação ao censo de 2010 é a menor taxa geométrica de crescimento populacional desde 1872, quando foi realizado o primeiro censo no Brasil. Azeredo afirmou que o ritmo de crescimento, segundo as últimas edições, vem diminuindo, o que reforça a conclusão sobre o envelhecimento da população brasileira. “Temos uma pirâmide etária completamente diferente. Temos que saber que o Brasil está envelhecendo e ficando grisalho. Temos que melhorar as políticas de atendimento às pessoas. É essencial ter isso no censo. Onde está essa população?” ele questionou.

A demora na informação também teve efeitos nas políticas públicas. Para o demógrafo e epidemiologista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP-Fiocruz) Raphael Guimarães, o censo é hoje o mais poderoso instrumento de diagnóstico em nível municipal para a formulação de políticas públicas. “Sempre que nos afastamos do prazo de realização do censo, estamos, cada vez mais, operando as políticas públicas no escuro”, disse Guimarães ao Agência Brasil.

Como exemplo do impacto, o demógrafo citou a distribuição de vacinas contra a covid-19, feita durante a pandemia pelo Ministério da Saúde com base em informações desatualizadas. “A vacina é um bom exemplo disso. Temos que pensar no número de vacinas considerando o tamanho da população e o contexto em que estamos criando critérios de elegibilidade para aplicar a vacina. É necessário considerar qual a estrutura etária dessa população. Se você tem uma estimativa da população idosa que não está atendendo, está oferecendo menos doses aos idosos do que deveria”.

Guimarães acrescentou que não é só pela dimensão da população, mas porque existe a expectativa de uma percentagem de idosos na população que não corresponde necessariamente à realidade. Para ele, isso ficou muito evidente por conta da pandemia.

“Essa coisa de ter perdido quase 1 milhão de pessoas, pouco mais de 700 mil mortes só de covid, a gente olha para isso e tenta entender que efeito isso tem na estrutura da população. Não tivemos muitas mortes de jovens adultos. Isso tem um efeito cumulativo muito considerável que trará consequências a curto e médio prazo”, destacou.

Além da distribuição das vacinas, a pesquisadora destacou que a demora influenciou na definição dos leitos para saber o tipo de cada um de acordo com a idade, a organização do sistema de saúde e o número de mulheres em idade fértil. “O número exato e a estrutura etária da população são muito importantes para redirecionar a política de saúde, não só para priorizar algumas coisas, mas para fazer o direcionamento adequado e fazer com que as políticas públicas cumpram seu papel”, afirmou.

Condados

A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apontou perdas para as cidades em que houve redução no número de habitantes. Em nota, a CNM avaliou que os dados censitários “não representam fielmente a realidade do país e impactam diretamente nos recursos repassados ​​aos entes locais, principalmente em relação ao Fundo de Participação dos Municípios e diversos programas federais que consideram o tamanho da população ” .

Segundo a confederação, os desvios muito acentuados entre a população estimada e a real observadas no censo indicam “erros de estimativa com graves consequências para a gestão municipal”.

Cimar Azeredo disse que o fato de o município estar perdendo população não é causado pelo censo, e o município ganhará com os dados disponíveis no levantamento censitário, pois terá informações fundamentais para a elaboração de políticas públicas. “O impacto que o recenseamento tem nas autarquias é sempre positivo, dando informação e permitindo ao autarca e à sociedade civil, munidos dessa informação, fazer crescer o município. Perder população não foi por conta do censo, que só acusa isso e mostra que o Fundo de Participação dos Municípios pode ser melhor distribuído”, disse Azeredo.

A CNM informou que, “por entender a relevância dessa radiografia para o país”, vai trabalhar junto ao Congresso Nacional e ao Executivo para que seja feita uma nova contagem da população em 2025, para garantir dados efetivos e corrigir os distorções resultantes da pesquisa. Esta contagem em 2025 é a contagem de meados da década que Cimar Azeredo considera fundamental em todas as edições dos recenseamentos e espera que ocorra na data certa.

Após apresentar as informações sobre população e domicílios, o IBGE já agendou as próximas divulgações dos dados do Censo 2022/2023.

Cimar Azeredo adiantou que serão feitas separadamente para o conjunto de informação de cada tema. Serão várias divulgações temáticas, começando pela população quilombola, depois os indígenas, a idade do Brasil, o Brasil que sabe ler e escrever, a cor do Brasil. Favela também está nas propagandas. “Serão várias divulgações e todas muito próximas, com um distanciamento entre 15 ou 20 dias.”

Foto de © Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
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