Censo: falta de endereços nas favelas dificulta cadastro de domicílios
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está revisitando todos os locais que ainda apresentam altos índices de entrevistas não realizadas, por ausência de moradores ou por recusa, para o Censo Demográfico de 2022. Segundo o IBGE, em áreas de favelas e comunidades urbanas, além da ausência e da recusa, existem outros desafios: muitas vezes não há endereço, o que dificulta o deslocamento e o cadastramento dos domicílios dos recenseadores.
“Em áreas mais densas, a coleta também pode ser mais difícil, pois há maiores chances de omissão de domicílios (nos fundos ou no telhado) por parte do recenseador. Ainda há problemas de acesso e circulação em algumas comunidades pelo desconhecimento do recenseador e pelo receio do morador de receber (o recenseador)”, informou o instituto.
“Para que todos os domicílios sejam visitados, o IBGE está divulgando amplamente a coleta em favelas e comunidades urbanas, para que os próprios moradores recebam e ajudem o recenseador, indicando os melhores trajetos e o local de moradia”, completa o órgão.
Neste mês, o IBGE fechou parceria com o Instituto Pereira Passos (IPP), órgão de pesquisa da cidade do Rio, para reduzir o percentual de domicílios que não responderam ao Censo em aglomerações subnormais da cidade, que está em torno de 9%.
A parceria envolve a contratação de ex-agentes dos Territórios Sociais, programa da prefeitura com a ONU-Habitat – Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, em que são realizadas pesquisas domiciliares em grandes favelas do Rio, como Rocinha e Maré.
“Ter informações qualificadas sobre as favelas da cidade é de suma importância para a elaboração de políticas públicas efetivas, baseadas em dados e evidências. Por isso o Censo é tão importante. O IPP já tem uma parceria de longa data com o IBGE e apoiá-lo nessa final é nosso dever”, disse o presidente do Instituto Pereira Passos, Carlos Krikhtine, em nota.
“Com a nossa experiência com o Programa Territórios Sociais, formamos recenseadores comunitários muito especializados no Rio de Janeiro. Além disso, podemos apoiar o IBGE com uma rede de conhecimento local institucional muito poderosa”, acrescentou.
Os novos recenseadores atuaram em fases anteriores dos Territórios Sociais e têm experiência com pesquisas domiciliares em localidades prioritárias. Na semana passada, eles foram capacitados pelo IBGE para conhecer melhor o questionário utilizado no Censo.
“Territorios é um programa que visa encontrar as famílias mais vulneráveis e, por isso, precisa estar diariamente nessas comunidades. Temos uma coordenação excelente nesses territórios, nossos agentes de campo são locais e conhecem muita gente. Além de disponibilizar uma lista de pessoas experientes para trabalhar, estamos oferecendo todo o suporte ao IBGE, mobilizando nossos coordenadores de campo para acompanhar as equipes com o objetivo de alcançar as famílias que ainda não responderam ao Censo”, informou, em nota nota, a coordenadora técnica de Projetos Especiais do IPP, Andrea Pulici.
Desde quinta-feira (16), eles vão a campo na última fase da operação censitária, a fase de apuração, que inclui o trabalho de análise dos dados coletados. Assim, procurarão os moradores que estavam ausentes no momento da visita ou que se recusaram a responder ao questionário.
Dados Favela
O levantamento Data Favela 2023, divulgado nesta sexta-feira (17), mostrou que, se as favelas brasileiras formassem um estado, ele seria o terceiro maior do Brasil em população. De acordo com o estudo, o número de favelas dobrou na última década, totalizando 13.151 mapeados em todo o país. Estima-se que existam 5,8 milhões de residências em favelas com 17,9 milhões de habitantes.
A pesquisa quantitativa foi realizada entre os dias 6 e 13 de março de 2023 e entrevistou 2.434 moradores de favelas distribuídos em todas as regiões do país.
“A favela já é um território claramente invisível e ficar de fora do Censo seria aumentar esse cenário, além de não permitir que políticas públicas que trabalhem na redução da pobreza e promovam oportunidades cheguem a esse território. É exatamente por isso que acreditamos que o Data Favela e o IBGE podem trabalhar em parceria para o correto mapeamento das favelas brasileiras pelo Censo”, disse o fundador do Data Favela, Renato Meirelles.
Ele atribui o problema do IBGE em realizar o censo nas favelas à dificuldade de conhecer um território que muitas vezes carece de CEP, rua e saneamento básico. “São lugares que estavam fora do mapa. O estigma do medo em relação às favelas também é um dos motivos, além da falta de presença do Estado nas favelas”, acrescentou Meirelles.