Copom: fixação de juros exige paciência e serenidade

Copom: fixação de juros exige paciência e serenidade

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) afirmou que a condução da política monetária – definindo os juros básicos da economia para conter a inflação – exige “paciência e serenidade”. Mais uma vez, a agência reforçou a possibilidade de elevação da taxa Selic, “apesar de ser um cenário menos provável”.
Para o Copom, a aprovação do quadro fiscal pode ajudar a equilibrar as contas públicas, que impactam as expectativas de inflação.

“A concretização de um cenário com quadro fiscal sólido e credível pode conduzir a um processo desinflacionário mais benigno através do seu efeito no canal das expetativas, reduzindo as expetativas de inflação, a incerteza na economia, o prémio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do comitê”, diz a ata da última reunião do Copom, divulgada nesta terça-feira (9).

“O comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário, pois serve de guia para a definição de reajustes de preços e salários atuais e futuros. Assim, com a elevação das expectativas, ocorre uma maior elevação dos preços no período corrente e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas”, explicou o Banco Central.

Reunião

A reunião do Copom ocorreu na semana passada e, na ocasião, o colegiado manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, pela sexta vez consecutiva. A taxa está nesse patamar desde agosto do ano passado e é a maior desde janeiro de 2017, quando também estava nesse patamar.

Anteriormente, o Copom havia elevado a taxa Selic 12 vezes seguidas, em um ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis em maio de 2021. Com a decisão, o BC espera que a inflação converja em torno da meta para o próximo ano.

Controle da inflação

A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. Por outro lado, a taxa Selic alta leva à desaceleração da economia, com encarecimento do crédito e redução dos investimentos e, portanto, Decisão do BC foi criticada pelo governo federal.

“O Comitê reforça que vai perseverar até consolidar não só o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não ocorra conforme o esperado”, diz a ata.

O Copom também discutiu os impactos da política fiscal (que cuida da receita e dos gastos públicos) sobre a inflação e avaliou que a apresentação do quadro fiscal reduziu a incerteza sobre cenários extremos de crescimento da dívida pública. Por outro lado, ele enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência da inflação e a aprovação do texto, pois a trajetória inflacionária reage às expectativas de inflação, projeções de dívida pública e preços de ativos.

“O comitê avalia que a probabilidade dos cenários mais extremos para a trajetória da dívida pública foi reduzida, mas também observou que não houve mudança relevante nas projeções de inflação uma vez que as expectativas não mudaram significativamente”, diz a ata.

balanço de risco

Para a agência, o cenário básico para a inflação envolve fatores de risco nas duas direções. Entre os riscos de alta, além da incerteza sobre o desenho final do quadro fiscal a ser aprovado pelo Congresso, está uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e um enfraquecimento maior, ou mais duradouro, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Entre os riscos negativos, o Copom destaca a queda adicional nos preços dos mercadorias (produtos primários, com cotação internacional) em moeda nacional; desaceleração da atividade económica global mais acentuada do que o projetado em particular devido a condições adversas no sistema financeiro global; e uma desaceleração do crédito doméstico maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo da política monetária.

“Por um lado, o aumento dos preços dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de enquadramento fiscal reduziram parte da incerteza decorrente da política fiscal. Por outro lado, a situação, caracterizada por uma fase em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em um ambiente de expectativas inflacionárias desancoradas, exige maior atenção na condução da política monetária”, diz a ata.

O Copom informou que o ambiente internacional continua adverso, com bancos nos Estados Unidos e na Europa com problemas e com inflação persistente na maioria dos países. “Os episódios envolvendo bancos no exterior aumentaram a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até agora, exigindo monitoramento contínuo”, dizem as atas. “A sinalização majoritária das autoridades monetárias é por um período prolongado de juros altos para combater as pressões inflacionárias, o que exige maior cautela na condução das políticas econômicas também dos países emergentes”, acrescentou o BC.

Internamente, a desaceleração gradual da economia continua, conforme esperado, e as expectativas de inflação seguem acima do teto da meta. Também há desaceleração no mercado de crédito em algumas modalidades. O mercado de trabalho, “que surpreendeu positivamente ao longo de 2022”, manteve-se resiliente, com aumento líquido do emprego e relativa estabilidade da taxa de desemprego.

“Os dados de atividade no Brasil indicam ritmo moderado de crescimento na margem, com destaque para o suporte dado pelo consumo, do ponto de vista da demanda, e pelo setor agropecuário, pelo lado da oferta. O Copom antecipa crescimento mais vigoroso na divulgação do PIB (Produto Interno Bruto – soma de bens e serviços) para o primeiro trimestre do ano, especialmente em função da produção agrícola, seguida de moderação da atividade econômica em ambiente marcado pela resiliência no mercado de crédito. trabalho”, diz a ata.

metas de inflação

O BC aponta que a inflação ao consumidor segue elevada. “No que diz respeito à inflação de serviços e ao núcleo da inflação (medida que busca capturar a tendência de preços, desconsiderando os efeitos de choques temporários) da inflação, observa-se nas últimas divulgações maior resiliência e menor velocidade de desinflação, em linha com o não processo linear que o comitê já antecipava. Além disso, as expectativas de inflação seguem sem ancoragem, em parte relacionadas ao questionamento de uma possível mudança nas metas futuras de inflação”, explica o documento.

A possibilidade de mudanças nas metas de inflação, para forçar a redução dos juros, virou tema de reunião, no início do ano, entre os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, do Planejamento, Simone Tebet, e a presidente do BC , Roberto Campos Neto, membros do Conselho Monetário Nacional (CMN), que define as metas.

Em declarações posteriores, eles afirmaram que o mudança na meta de inflação não está na pauta do CMN. Segundo Campos Neto, ainda que as metas de inflação não tenham sido cumpridas em alguns momentos, o Brasil segue caminho semelhante ao de outros países, permanecendo “a maior parte do tempo dentro da banda”. Segundo ele, o país registrou “sete explosões em 24 anos”.

Definida pelo CMN, a meta de inflação é de 3,25% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 1,75% e o limite superior é de 4,75%.

As projeções de inflação do Copom são de 5,8% para 2023 e de 3,6% para 2024.

As projeções para a inflação dos preços administrados (como energia elétrica, gasolina, gás e transporte público) são de 10,8% para 2023 e 5,2% para 2024. O Copom adotou a hipótese da bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023 e 2024, além do câmbio taxa a partir de R$ 5,05 e o preço do petróleo seguindo a curva ascendente para os próximos seis meses e subindo 2% ao ano depois para fazer essas projeções.

A estimativa do Banco Central para a inflação de 2024 também está acima do centro da meta projetada – 3%, mas ainda dentro dos intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Inflação

Em março, o inflação desacelerou em todas as faixas de renda. Ainda assim, impulsionado pelo aumento dos preços dos combustíveis, o IPCA ficou em 0,71%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado é inferior ao de fevereiro: 0,84%. Em 12 meses, o indicador acumula 4,65%, abaixo de 5% pela primeira vez em dois anos.

Para abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) – prévia da inflação oficial – ficou em 0,57%. A taxa é menor em relação a março de 2023 (0,69%) e abril de 2022 (1,73%). O IPCA de abril será divulgado pelo IBGE na próxima sexta-feira (12).

O comitê avalia que a dinâmica da desinflação segue em duas fases distintas: a primeira, já encerrada e com maior velocidade de desinflação, teve maior efeito sobre os preços administrados e efeito indireto sobre os preços livres; os segundos, com menor velocidade, respondem mais à demanda agregada e à política de juros.

“Os dados inflacionários mais recentes corroboram a visão de um processo de desinflação mais lento, em linha com a visão de inflação impulsionada pelo excesso de demanda, principalmente no setor de serviços”, diz a ata.

Foto de © Marcello Casal JrAgência Brasil
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