Desentendimentos com o Banco Central marcam os primeiros 100 dias de governo

Desentendimentos com o Banco Central marcam os primeiros 100 dias de governo
Desentendimentos com o Banco Central marcam os primeiros 100 dias de governo

Ao longo dos primeiros 100 dias de governo, nenhum conflito teve temperatura mais alta do que aquele entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central (BC). Na última quinta-feira (6), em café da manhã com jornalistas, Lula voltou a declarar que os juros estão muito altos e disse que talvez seja necessário mudar a meta de inflação.
Desde agosto do ano passado, o BC mantém a taxa Selic (taxa básica de juros) em 13,25% ao ano. A reação dos funcionários do governo varia.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou o tom dos anúncios do Comitê de Política Monetária (Copom), que não descarta novos aumentos dos juros caso a inflação persista. As atas do Copom, divulgadas seis dias após cada reunião, têm sido publicadas em tom mais descontraído, o que torna governo reduz críticas ao BC.

Presidente do BC Roberto Campos Neto disse que a redução da Selic não é fácil porque houve um “deslocamento de demanda” em relação aos bens. “Tentamos suavizar o ciclo. Estamos ansiosos. Entendemos que os juros altos causam esses impactos na parte produtiva. Procuramos amenizar isso, porque nosso trabalho é fazer isso de forma a causar o menor dano possível à economia”, destacou o presidente do BC em apresentação esta semana a um banco de investimentos.

Postura

A atitude do governo em relação ao Banco Central divide os especialistas. Para André Nassif, professor do Departamento de Economia e Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), as críticas são corretas porque as ações do BC impedem a recuperação econômica. “Sinto-me um pouco desapontado com os primeiros 100 dias. Não em relação ao governo Lula em si, mas porque existem entraves institucionais, principalmente do Banco Central, que reduzem a autonomia do governo para implementar uma política geradora de empregos”, diz.

Professora emérita de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Matesco contesta e diz que a postura da autoridade monetária está correta. “Qualquer outra política de combate à inflação fora da política monetária (aumento dos juros) é paliativa. Quando o presidente Lula fica batendo no Banco Central, só piora a situação. Que o presidente do PT fale é uma coisa, mas o presidente da República fale é outra”, critica.

Segundo ela, cada declaração de Lula contra a política monetária causa turbulência no mercado financeiro. “É como se o presidente estivesse pagando (através de oscilações do dólar e dos juros futuros) para criticar o Banco Central”, compara.

A divulgação do novo quadro fiscal parece ter estremecido as relações. Na última quarta-feira (5), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse ter uma avaliação “superpositiva” das novas regras e declarou que o futuro quadro fiscal evitará o controle da dívida.

Ao mesmo tempo, o governo tem o poder de nomear dois novos diretores do Banco Central cujos mandatos terminaram em 28 de março por meio da lei de autonomia do Banco Central. Titular do conselho mais importante, o de Política Monetária, Bruno Serra já foi exonerado. The Director of Inspection, Paulo Sérgio Neves de Souza, can be reappointed.

emprego e renda

Para os próximos meses, o governo tem vários desafios. O principal é a aprovação do novo arcabouço fiscal pelo Congresso sem grandes mudanças. A equipa económica terá ainda de contar com a aprovação de medidas que revisam ou revertem incentivos fiscais concedidos há décadas para garantir as receitas necessárias ao cumprimento do novo enquadramento.

Enquanto o governo está parado, a economia sente os efeitos da desaceleração. A geração de empregos formais no primeiro bimestre do ano atingiu o nível mais baixo para o período desde 2020. A taxa de desemprego, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, caiu para 8,6% no trimestre encerrado em fevereiro, mas a queda se deve à geração de empregos com baixos salários.

No curto prazo, dizem os especialistas, a única alternativa para destravar o mercado de trabalho passa pela retomada dos investimentos públicos. “As obras públicas são um fator importante para a contratação de trabalhadores no curto prazo. Uma saída é a retomada das obras paradas, principalmente creches. Além de amenizar o problema do emprego, as creches têm uma função social e ajudam as mães que querem trabalhar fora e não podem”, diz Matesco.

Nassif é mais pessimista e diz que os investimentos para gerar empregos dependem, no momento, da queda dos juros. “Não há outra solução senão reduzir os juros o mais rápido possível. A inflação no Brasil não se deve à demanda, mas sim aos choques nos preços dos combustíveis e dos alimentos causados ​​pela recuperação da economia mundial no pós-pandemia e pela guerra na Ucrânia”, declara.

Para esta semana, está previsto o relançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do novo quadro de parcerias público-privadas (PPP). Relativamente às obras paradas, o governo lançou a plataforma Ir trabalharatravés do qual governos locais relatam projetos paralisados em um banco de dados.

Foto de © Marcello Casal JrAgência Brasil
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