Entidades do setor produtivo e centrais sindicais criticam juros altos
A manutenção da Taxa Selic (taxa básica de juros da economia) em 13,75% ao ano voltou a receber críticas de setores da economia. Entidades do setor produtivo e centrais sindicais alertaram para o risco de o alto nível de juros prejudicar a recuperação da economia.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a decisão do Copom como “errada”. Segundo a entidade, a Selic, que está no maior patamar desde janeiro de 2017, está fazendo com que a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelere fortemente, mas está acima do necessário e traz riscos à produção e consumo.
“Esperamos que, com a continuidade da desaceleração da inflação, o Copom inicie o tão necessário processo de redução da taxa Selic na próxima reunião”, afirmou, no comunicado, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Segundo a CNI, entre a reunião do Copom de 2 e 3 de maio e a reunião desta quarta-feira (21 de junho), a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação esperada – subiu de 8,1% ao ano para 9,2% ao ano. Com isso, a taxa de juros real está 5,2 pontos percentuais acima da taxa de juros real neutra, o que não estimula nem desestimula a atividade econômica. A entidade lembrou ainda que a produção industrial caiu em três dos primeiros quatro meses deste ano.
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) também considerou inadequada a decisão do Copom. A federação avalia que o alívio recente nos preços correntes e a contínua redução das expectativas inflacionárias para 2023 e 2024 são fatores que indicam que haveria espaço para um recuo da Selic. “Além disso, o cenário doméstico tem contribuído para a redução da percepção de risco-país. Isso se reflete positivamente na taxa de câmbio, que continua se valorizando em relação ao dólar, favorecendo o contexto desinflacionário”.
A Firjan reforça que “os desafios internos se multiplicam. Indicadores de atividade de curto prazo já apontam para queda da atividade econômica neste início deste segundo trimestre. Neste cenário, a recuperação da confiança no setor produtivo exige uma política monetária mais moderada, a aprovação do novo quadro fiscal e o consequente comprometimento com as novas regras, visando garantir a sustentabilidade da dívida pública”. Além disso, são necessárias mudanças estruturais, como a reforma tributária, para garantir uma retomada sólida do crescimento econômico, promovendo a geração de emprego e renda para a população.
As centrais sindicais também criticaram a manutenção da Selic. Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) lembrou que os juros altos encarecem o crédito para pessoas físicas e jurídicas, que estão nos patamares mais altos dos últimos anos. Na terça-feira (20), diversas organizações de trabalhadores protestaram em frente ao Banco Central contra os juros altos.
“Estamos todos perdendo. O país está perdendo com o Banco Central mantendo o país com uma Selic em um patamar tão alto, que influencia todo o sistema financeiro, inclusive os bancos, e faz com que sejam praticados juros abusivos, os mais altos do mundo”, destacou em o comunicado da presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Financeiros (Contraf-CUT) e vice-presidente da CUT, Juvandia Moreira.
A Força Sindical também considerou um erro o atraso no início da queda da Taxa Selic, em um momento em que a inflação está claramente em queda. “Como dito, a inflação tem apresentado tendência de queda, com redução pelo terceiro mês consecutivo no índice de preços, e a expectativa é que comecem a se registrar deflações”, destacou a entidade. “Dado todo esse contexto, reforça-se que a decisão do Copom é equivocada e prejudicial para o atual momento econômico”, ressaltou.