Estado tem que ser o necessário para induzir o desenvolvimento, diz Lula
O governo federal pretende investir R$ 106,16 bilhões em quatro anos para impulsionar a nova política industrial brasileira. O anúncio foi feito durante a 17ª reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), nesta quinta-feira (06), no Palácio do Planalto, da qual participou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O principal financiador da política será o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com recursos de R$ 65,1 bilhões. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), as duas últimas vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), farão as demais contribuições.
O presidente Lula destacou que o governo vai destinar recursos ao BNDES e criar condições para investimentos em inovação. “Acabou a bobagem de que o Estado tem que ser forte ou tem que ser fraco. O Estado tem que ser o Estado necessário para poder direcionar e induzir o crescimento econômico do país”, afirmou. “Vamos parar com essa questão de dizer quem é melhor e quem é pior, o Brasil precisa dos dois, precisa do Estado e precisa da iniciativa privada. E precisa formar profissionais mais qualificados se realmente quiser voltar a ser um país industrializado”, acrescentou.
Lula reafirmou que a economia crescerá quando dinheiro circulando nas mãos da população e que o investimentos em educação não podem ser consideradas despesas.
“Pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda, significa menos pobreza, mais poder de consumo, significa melhorar a vida da sociedade, que é o que precisamos fazer. Com as medidas que já tomamos aqui, o dinheiro está circulando. Se o dinheiro chegar ao fundo, não será investido na bolsa, não comprará dólares; ele volta ao comércio. Quando se volta ao comércio, ganha o comércio, ganha a indústria, ganha o emprego, ganha todo mundo, não precisa ser médico honoris causa para saber disso”, disse.
Para o presidente, o Brasil tem uma janela de oportunidades e potencial para atrair novos investimentos. Ele citou a transição energética, a indústria do gás e os modais de transporte.
“O Brasil tem a chance que nunca teve. O fato de o Brasil estar exilado do mundo há seis anos deu ao mundo uma sede, uma necessidade do Brasil. E precisamos aproveitar que o Brasil não tem disputa com ninguém, o Brasil gosta de todo mundo e todo mundo gosta do Brasil”, disse Lula, argumentando que esse é um dos motivos para o país manter a neutralidade em relação à guerra entre a Rússia e Ucrânia.
desindustrialização
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, destacou que o país enfrenta um processo de desindustrialização precoce. Alckmin apresentou dados que mostram que, na década de 1970, a indústria de transformação representava mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – soma dos bens e serviços produzidos no país) e hoje caiu para cerca de 10%.
“É o tamanho do desafio que temos pela frente”, disse Alckmin, abrindo o encontro.
O CNDI é vinculado à Presidência da República e presidido pelo Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Criado em 2004, o colegiado teve sua última reunião em 2015. É composto por 20 ministros de Estado e pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), hoje Aloízio Mercadante, e 21 conselheiros representantes da sociedade civil.
Segundo a Presidência da República, o conselho volta com a missão de construir uma nova política industrial para o Brasil, “de caráter inovador, sustentável e socialmente inclusivo”.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, destacou que, nos últimos anos, os principais e mais industrializados países, como Estados Unidos, China, Alemanha e França, decidiram investir maciçamente no desenvolvimento industrial de seus países já industrializados. .
“(Eles) perceberam que, para enfrentar esse novo momento que vivemos no mundo, de inflação, de, principalmente, desemprego, de necessidade de gerar empregos de qualidade, conhecimento e tecnologia, só a indústria realmente seria capaz de proporcionar tal necessidades desses países”, afirmou, citando marcos da indústria brasileira e a importância de novos investimentos no setor.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sergio Nobre, afirmou que a classe trabalhadora sempre lutou por uma política industrial, mas lembrou que a indústria instalada precisa ter a mesma atenção.
“Existem regiões importantes, regiões tradicionais, e é essa indústria que mata um leão por dia, luta contra todo tipo de adversidade, para continuar sobrevivendo e mantém importantes regiões do país”, destacou Nobre. “É uma indústria que ainda não chegou à neoindústria, está lutando para sair da segunda Revolução Industrial e ir para a terceira”, enfatizou.
alto interesse
A taxa básica de juros da economia, a taxa Selic, foi criticada durante a reunião, com o argumento de que os investimentos anunciados não serão eficientes para impulsionar a indústria com o alto custo do crédito.
A taxa é fixada em 13,75% ao ano. Embora tenha parado de subir em agosto do ano passado, está no maior patamar desde o início de 2017, e os efeitos do aperto monetário se fazem sentir na alta do crédito e na desaceleração da economia.
O presidente da CNI destacou que o país precisa de crédito com juros baixos. “É a batalha que todos nós travamos hoje para reduzir os juros no Brasil, e acho que temos todas as condições para isso, para que essa redução dos juros comece”, disse Robson Andrade, também defendendo a aprovação da reforma tributária.
O representante da CUT acrescentou que o assunto precisa ser tratado no Senado Federal, órgão que aprova as indicações para a diretoria do Banco Central, que fixa a taxa Selic.
“Podemos ter a melhor política industrial do mundo, a melhor reforma tributária do mundo, agora com a taxa de juros em 13,75%, obrigando o BNDES, que é o principal banco de fomento, a fazer um empréstimo com 13,75%, mais o custo do banco, que chega a 20%, 21%, como vamos crescer?”, questionou.
Segundo o presidente do BNDES, de janeiro a maio do ano passado, o custo da taxa de juros foi de R$ 187 bilhões para o governo, já que a Selic é o índice da dívida pública. “De janeiro a maio deste ano, foram R$ 297 bilhões — são R$ 110 bilhões a mais em custos tributários. Então, além de inibir o investimento, estão aumentando a dívida pública, que é a maior meta do Banco Central, a relação dívida/PIB”, afirmou. “Precisamos reduzir os juros, o Senado tem que fazer esse debate com transparência”, acrescentou Mercadante.
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Também nesta quinta-feira, foi anunciada a expansão do Brasil Mais Produtivo (B+P), programa lançado em 2016 que oferece consultoria técnica com soluções para aumentar a produtividade, inovação e gerar mais transformação digital para micro, pequenas e médias empresas brasileiras. .
O programa, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços DIC, com o apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), BNDES e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), já atendeu mais de 100 mil empresas em todo o Brasil. A reformulação do B+P visa beneficiar cerca de 185 mil empresas até 2026, com foco especial no setor industrial, com investimento de R$ 1,5 bilhão entre 2023 e 2026.
Também foi assinado um acordo de cooperação técnica para promover o desenvolvimento tecnológico e aumentar a oferta de máquinas, implementos, equipamentos e tecnologias adaptadas às necessidades da agricultura familiar. Além do MDIC, os ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Ciência, Tecnologia e Inovações, Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), BNDES, Finep, Embrapii e os bancos do Nordeste, Brasil e Amazônia.
O ato faz parte da retomada do programa Mais Alimentos, conforme anunciado no dia 28, no Plano de Safra para Agricultura Familiar.
nova política industrial
Segundo o governo, o processo de desindustrialização precoce envolve uma estrutura produtiva cada vez mais centrada nos setores primários, encadeamentos menos robustos entre os elos das cadeias produtivas e exportações concentradas em produtos de baixa complexidade tecnológica.
“A retomada das políticas industriais, de inovação e promoção de uma inserção internacional qualificada mais competitiva envolve a superação do atraso produtivo e tecnológico. Esse é o desafio que o CNDI se propõe a resolver”, explicou a Presidência da República, em nota em que cita, entre os princípios propostos para a nova política, inclusão socioeconômica, qualificação profissional e melhoria da renda, redução das desigualdades regionais e sustentabilidade.
Nos próximos meses, o CNDI se concentrará nas seis missões de política industrial, derivadas dos problemas sociais e de desenvolvimento do país:
– Promoção de cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar e nutricional
– Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e ampliar o acesso à saúde
– Infraestrutura sustentável, saneamento, habitação e mobilidade para integração produtiva e bem-estar nas cidades
– Transformação digital da indústria para aumentar a produtividade
– Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energética para garantir recursos para as gerações futuras
– Tecnologias de interesse para a soberania e defesa nacional
Divididos em grupos de trabalho, os integrantes devem dialogar com os diversos segmentos da indústria, identificar gargalos na consolidação e descarbonização da cadeia e traçar estratégias e ações para impulsionar a atividade industrial nessas áreas.
Os próximos passos do trabalho envolvem a definição das rotas tecnológicas para os diferentes setores a serem desenvolvidos, bem como os instrumentos a serem utilizados nesses processos, como financiamento e garantias, pesquisa e desenvolvimento e infraestrutura de qualidade.