Governo vai propor fim dos juros sobre capital próprio, diz Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (24), que o governo vai propor o fechamento do mecanismo de juros sobre capital próprio. “É uma das medidas que estão sendo preparadas pelo Tesouro”, afirmou, ao deixar o anexo do Palácio do Planalto, após encontro com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
A equipe econômica já trabalha na medida há alguns meses com o objetivo de coibir abusos na regra de distribuição de juros sobre capital próprio e aumentar a receita.
Atualmente, existem duas formas de as empresas distribuirem parte do lucro aos acionistas. A primeira ocorre por meio de dividendos, exigidos pela Lei das Sociedades por Ações, em que a empresa paga Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre o lucro, mas o investidor não paga nada. A reforma do Imposto de Renda, a ser discutida no segundo semestre, pretende tributar os dividendos das pessoas físicas e reduzir a tributação das empresas.
A segunda ocorre por meio de juros sobre o capital próprio, de natureza facultativa, em que a empresa não paga IRPJ e CSLL, mas o investidor paga 15% de Imposto de Renda retido na fonte. As transferências de juros para investidores são consideradas despesas e deduzidas dos lucros.
O mecanismo foi criado para atrair investidores na bolsa de valores e facilitar o autofinanciamento com recursos dos sócios, ao estimular a distribuição de lucros pelas empresas. Em abril, ao comentar a possibilidade de acabar com o mecanismo, o ministro Haddad explicou, porém, que várias empresas estão zerando artificialmente o lucro para transformá-lo em juros sobre o capital próprio.
“Existem empresas, para se ter uma ideia, que não estão mais dando lucro. Existem empresas muito rentáveis que não declaram lucro e, por isso, não pagam IRC. O que eles fizeram? Transformaram artificialmente o lucro em juros sobre o capital próprio. Não pagam nem como pessoa jurídica nem como pessoa física”, explicou o ministro.
depreciação acelerada
O assunto da reunião entre Haddad e Alckmin foi a mudança na depreciação acelerada de bens de capital, para estimular a economia, a partir de 2024. Segundo ele, há muitos anos a indústria cobra que a depreciação de máquinas e equipamentos seja feita em maior velocidade.
Quando uma empresa compra uma máquina, ela pode gastar parte do preço a cada ano. A liberação diminui o lucro e, portanto, resulta na diminuição do Imposto de Renda recolhido.
“Isso não tem impacto fiscal per se, exceto no tempo. Com efeito, em vez de adiar (adiar) a depreciação, você antecipa o efeito tributário. Com o tempo é nulo, mas isso dá uma grande vantagem ao industrial que está disposto a investir em seu negócio em busca de aumento de produtividade, que há muitos anos não aumentava no Brasil”, explicou.
Segundo Haddad, o governo reafirmou seu compromisso com a tese da depreciação acelerada para 2024 e agora definirá o alcance da medida, a partir da aprovação do orçamento de 2024 pelo Congresso Nacional.
“O alcance pode ser muito diferente em relação aos setores que você vai abranger e em relação ao encurtamento do prazo. Então vamos ver a evolução do processo orçamentário a partir de 31 de agosto e vamos definir o ponto de partida da depreciação acelerada. Mas está combinado que comece em 2024”, disse.
“Pode variar muito porque o pacote geral pode chegar a R$ 15 bilhões, mas pode vir de R$ 3 (bilhões), pode vir de R$ 5 (bilhões), pode ser de R$ 9 (bilhões). Vai depender muito do espaço que o Congresso nos permitir em função das leis que serão aprovadas. A calibração é o ponto de partida. Como no ano seguinte você já começa a recuperar o crédito, é algo que você pode avaliar dependendo do espaço fiscal que você tem”, acrescentou.