Haddad nega a criação de impostos para cumprir novas regras tributárias
O cumprimento das metas de resultado primário previstas no novo quadro fiscal não implicará na criação de impostos nem no aumento das alíquotas vigentes, afirmou nesta quinta-feira (30), em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele, no entanto, admitiu que algumas isenções para setores específicos poderiam ser revertidas.
“Se por carga tributária se entende a criação de tributos ou o aumento da alíquota, não está no nosso horizonte. Não estamos pensando em criar a CPMF (ex-imposto sobre movimentação financeira), nem em onerar a folha de pagamento”, declarou o ministro ao apresentar o projeto de lei complementar do novo regime fiscal.
Mesmo sem a criação de impostos, o ministro disse que alguns setores que se beneficiam de isenções há décadas podem ter revisado os incentivos fiscais. Em alguns casos, novos setores ainda não regulamentados podem ser tributados, como as apostas esportivas online.
“Temos muitos setores excessivamente favorecidos com regras de décadas. Iremos, ao longo do ano, tomar medidas para dar consistência a este comunicado. Sim, temos setores que estão se beneficiando e novos setores que não são regulamentados (como as apostas esportivas eletrônicas)”, disse o ministro. “Vamos fechar os ralos do patrimonialismo brasileiro e acabar com uma série de abusos que foram cometidos contra o Estado brasileiro”, frisou.
Para o ministro, uma revisão geral dos incentivos fiscais beneficiará toda a população e permitirá ao Banco Central reduzir os juros no futuro. Haddad pediu sensibilidade ao Congresso Nacional para rever os benefícios fiscais – atualmente em torno de R$ 400 bilhões por ano – e cuja revisão foi determinada por uma emenda constitucional de 2021.
“Se quem não paga impostos começar a pagar, todos nós vamos pagar menos juros. Isso é o que vai acontecer. Agora, para que isso aconteça, aquele que está fora do sistema tem que entrar no sistema. O Congresso tem que ter sensibilidade para perceber o quanto seu desejo foi degradado na prática pelos abusos e corrigir essas distorções”, enfatizou.
Credibilidade
Na avaliação do ministro da Fazenda, a flexibilidade trazida pelo novo quadro em momentos imprevistos da economia trará regras e mais credibilidade. Segundo Haddad, as regras combinaram o que ele chamou de “o melhor dos dois mundos”, ao combinar disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal e um limite de gastos mais flexível do que o antigo teto de gastos.
“Traçamos uma trajetória consistente do resultado primário em que a despesa necessariamente acompanhará a receita e, portanto, ampliará o espaço para dar sustentabilidade às contas públicas”, explicou.
Em seguida, ele disse que o limite de 70% de crescimento dos gastos será calculado sobre o crescimento da receita nos 12 meses encerrados em julho, antes que o orçamento do próximo ano seja enviado ao Congresso. Segundo o ministro, essa mudança é necessária para evitar um problema recorrente no Orçamento brasileiro: o inchaço das estimativas de arrecadação do Congresso.
Ele justificou a banda na meta de resultado primário – margem de tolerância de 0,25 ponto percentual (pp) do Produto Interno Bruto (PIB), para cima ou para baixo, com base na necessidade de evitar instabilidades na execução do Orçamento próximo ao final do ano ano.
“A meta (de superávit primário) também tem uma pequena faixa para evitar o derramamento de sangue desenfreado do final do ano ou gastar mais sem planejar, gastar mais ou então cortar despesas de forma desordenada”, explicou.
O ministro não informou uma data para enviar ao Congresso o projeto de lei complementar do novo marco. Segundo Haddad, o governo vai aproveitar o recesso da Semana Santa para elaborar um texto criterioso. A ministra Tebet informou que colocou dois secretários – do Orçamento Federal e o secretário-executivo da pasta – à disposição do Ministério da Fazenda para ajudar na elaboração do projeto.
Qualidade
Também presente ao anúncio do novo marco fiscal, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, reforçou o coro em relação à previsibilidade e credibilidade das novas regras. Ela informou que o governo pretende trabalhar para melhorar a qualidade do gasto público.
“Depois que chegaram os primeiros números, vimos que essa regra fiscal é crível, é possível e temos condições de cumpri-la. Porque tem flexibilidade e nos permite fazer ajustes para atingir as metas. Temos a convicção de que, se o Congresso aprovar esse marco, conseguiremos atingir nosso objetivo: reduzir ao máximo os gastos com gastos públicos de qualidade. E vamos tentar eliminar esse déficit e ter a possibilidade de superávit em 2025”, prometeu.