Juros altos e veículos mais caros impedem retomada da produção

Juros altos e veículos mais caros impedem retomada da produção
Juros altos e veículos mais caros impedem retomada da produção

O aumento das taxas de financiamento está impactando as vendas e a produção de veículos. No entanto, de acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem do Agência Brasilos preços dos carros também aumentaram significativamente nos últimos anos, o que deve dificultar a recuperação do mercado, mesmo que haja queda nas taxas de juros.
“O que tivemos de novo foi a brutal alta dos preços dos automóveis ditada pelo significativo reajuste de componentes, semicondutores, pela desvalorização cambial e até pela inflação vigente nos últimos anos. Isso fez com que, a partir de 2021, tivéssemos esse reajuste galopante de preços, sem que isso fosse geralmente acompanhado pelo poder de compra da sociedade”, resume o professor da Fundação Getulio Vargas Antônio Jorge Martins sobre os elementos que encareceram os preços. veículos.

Segundo balanço divulgado nesta segunda-feira (10) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), produção de veículos aumentou 8% no primeiro trimestre do ano em relação ao período de janeiro a março de 2022. Foram fabricadas 496,1 mil unidades nos primeiros três meses deste ano. Apesar do número representar um aumento, a base de comparação, no ano passado, está em um patamar ruim, quando foi registrado o pior resultado da indústria automobilística desde 2004.

Tarifas

O principal elemento que tem atrapalhado a retomada das vendas e da produção, na avaliação da Anfavea, é a alta taxa de juros. Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano.

“É bastante evidente que o nível dos juros impede o retorno da produção a patamares mais elevados. Tem funcionado como um freio de mão em relação a uma retomada mais significativa dos volumes de produção”, concorda o assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luis Paulo Bresciani.

carros mais caros

No entanto, Bresciani também avalia que, além do aumento dos juros, houve um aumento no custo dos carros que, na prática, reduz o tamanho do mercado consumidor. “Taxa de juros e, portanto, condições de crédito e financiamento muito prejudicadas, por um lado. E por outro lado, temos uma oferta de veículos concentrada em modelos que partem de um ponto de partida muito alto e, portanto, afastam boa parte dos potenciais compradores”, aponta.

O foco em modelos mais caros foi, segundo Antônio Jorge Martins, uma das estratégias do setor para conseguir lidar com o repasse do aumento dos custos de produção, também impulsionado pelos investimentos em tecnologia. “Até então, o foco de todas essas montadoras era volume, produzir o máximo possível. Isso deixou de existir porque realmente havia um novo objetivo estratégico a ser cumprido, que era obter margem de lucro, de forma a permitir a continuidade desses investimentos que não podem deixar de acontecer”, explica.

Por isso, o especialista diz que apenas a queda dos juros, melhorando as condições de financiamento, não será suficiente para que o mercado de veículos volte aos patamares anteriores a 2015. uma melhora acentuada no mercado como um todo”, enfatiza. A redução dos preços dos componentes e a valorização do real frente ao dólar são pontos que, na opinião de Martins, podem ajudar o setor a recuperar espaço.

Trabalho

Segundo Luis Paulo Bresciani, se a indústria não melhorar os resultados, pode haver redução no número de pessoas ocupadas no setor. Algumas fábricas já adotaram medidas como férias coletivas e redução do número de turnos de produção. “O passado mostra-nos que sempre que há uma redução dos níveis de produção e vendas, há um ajustamento do emprego. E o ajuste está sendo feito agora nessa perspectiva. Não são medidas de redução automática, mas sinalizam isso”, aponta.

Para ele, empresas, governo e sindicatos devem discutir com urgência medidas para reverter essa tendência. “Há uma série de medidas que podem ser adotadas, não necessariamente isenções ou mudanças na tributação, mas que precisam ser discutidas pelos três segmentos que fazem parte dessa governança compatível com a tomada de decisão democrática, envolvendo governo, sindicatos e o empresariado setor”, diz.

Como exemplo, Bresciani citou incentivos para renovação de frotas de carros que prestam serviços coletivos, como ônibus, táxis e transporte por meio de aplicativos. Ele também destacou que historicamente os sindicatos defendem que os veículos sejam ofertados nacionalmente com valor acessível e atualizados tecnologicamente.

Foto de © REUTERS/Nacho Doce/Direitos reservados
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