Ministério anuncia medidas para ampliar crédito e investimentos
O Ministério da Fazenda anunciou nesta quinta-feira (20) medidas estruturais de crédito e garantia para parcerias público-privadas (PPPs) de entes subnacionais. As medidas, detalhadas pelos secretários da Fazenda, Rogério Ceron, e das Reformas Econômicas, Marcos Pinto, estão divididas em três eixos: mercado de crédito bancário, mercado de capitais e mercado de seguros.
A ideia central das medidas é facilitar o acesso e reduzir as taxas de juros no mercado de crédito; proteger os investidores no mercado de capitais; melhor funcionamento das instituições que suportam os mercados bancário e de capitais; e melhorar o processo de utilização de garantias.
Parcerias
Em sua apresentação, o secretário da Fazenda, Rogério Ceron, detalhou as medidas que estão sendo adotadas para promover as PPPs. Em termos de Finanças, o secretário destacou quatro medidas que serão adotadas imediatamente.
Duas delas são garantias da União para financiamentos. Uma das garantias incidirá sobre contribuições; e o outro, o financiamento de pagamentos continuados. A terceira medida é flexibilizar a contabilização das despesas de PPP; e, por fim, a publicação do decreto sobre as debêntures incentivadas (títulos privados com alíquotas diferenciadas de imposto de renda que financiam investimentos).
contribuições
Sobre a primeira medida citada pelo secretário (garantia da União para financiar os aportes), Ceron explicou que, ao viabilizar essas operações de crédito na fase de construção, o governo pretende diminuir os riscos para os parceiros privados, além de diminuir a alavancagem precisa. financiamento do setor privado.
Com a diminuição da “percepção de riscos”, o governo diz esperar tornar os projetos de PPP mais atrativos nos entes subnacionais. Prevê-se também a redução de custos para estas entidades e a utilização de instrumentos de financiamento mais eficientes.
“Com o aval da União, o risco de inadimplência da operação é praticamente zero e, portanto, o custo da operação é extremamente competitivo, pois o menor custo que o estado e o município podem obter é quando têm o aval da União sobre a operação”, justificou Ceron.
consideração continuada
Na avaliação do secretário, a medida mais “importante e estrutural” é a garantia da União para financiar os pagamentos continuados do projeto. “A legislação de PPP tem quase 20 anos. (As regras) avançaram muito, mas ainda têm potencial para serem alavancadas principalmente nos estados e municípios. A grande dificuldade para que esses projetos sejam viáveis, dando segurança para a iniciativa privada fazer o investimento, são as garantias”.
“Vamos então oferecer o aval (da União) com garantias para as instituições financeiras que realizam essas operações”, acrescentou. “E se a entidade não pagar a operação de crédito com a financeira, o Tesouro vai então honrar a obrigação, e acionar a contragarantia, algo que o Tesouro está bastante acostumado a fazer. Isso revoluciona o mercado, do ponto de vista de segurança financeira, garantia e atração, porque muitos estrangeiros não entram nesses projetos pelo risco de inadimplência e por não conhecerem os estados e municípios”, acrescentou.
Contabilização de despesas de PPP
A portaria do Tesouro define que, para fins de contabilização das despesas de PPP – dentro do limite de 5% da receita corrente líquida –, não serão consideradas no cálculo as despesas relativas a serviços já prestados que apenas substituem despesas pré-existentes, uma vez que não foram criadas por meio de um contrato de PPP; nem despesas com contribuições para realização de obras e aquisição de bens reversíveis, pois não têm caráter contínuo.
“Estamos deixando claro que apenas as despesas adicionais estão incluídas neste percentual, e não as despesas integrais; e que as contribuições feitas na fase de construção não entram no percentual desse limite”, disse o secretário.
debêntures de incentivo
Ceron explica que as debêntures incentivadas são instrumentos de capacitação feitos pelas concessionárias de PPP ou concessões com o objetivo de captar recursos para viabilizar os investimentos.
Com o decreto a ser publicado, o governo vai agregar novos setores sujeitos a esse tipo de financiamento (além dos setores rodoviário, ferroviário e elétrico). Neste caso, educação; saúde; segurança pública e sistema prisional; parques urbanos e unidades de conservação; equipamentos culturais e esportivos; e habitação social e regeneração urbana.
No caso de projetos de infraestrutura socioambiental, estão previstas alíquotas diferenciadas de imposto de renda, tanto para pessoa física (0%) quanto para pessoa jurídica (15%).
Quadro de Garantias
Coube ao secretário de Reformas Econômicas, Marcos Pinto, detalhar as medidas de fomento ao crédito. Entre eles, o novo Marco de Garantias, que terá como base projeto de lei já em tramitação no Congresso Nacional. “Vemos muito mérito neste projeto”, disse referindo-se ao PL nº 4.188/2021.
“No entanto, alguns problemas interromperam seu progresso. Uma delas é uma discussão sobre ativos domésticos e sua interação com garantias. Achamos que esta discussão não tem sentido. É por isso que queremos propor ao Congresso que suprima esta seção para facilitar o procedimento. A ideia é focar no essencial, que é o aperfeiçoamento das instituições de garantia que já temos, de forma a permitir que essas garantias sejam mais sólidas, diminuindo os riscos de crédito para os bancos e os custos de captação para os tomadores”, acrescentou.
A proposta também inclui a possibilidade de permitir a utilização de fundos abertos de previdência complementar e títulos de capitalização como garantia em operações de crédito.
Desburocratização do crédito
Marcos Pinto explicou que, além de simplificar o procedimento de emissão de obrigações – ao permitir que a sua aprovação seja autorizada pelo conselho de administração, em vez de assembleia geral –, o Governo pretende também “simplificar ou dispensar” a apresentação de alguns documentos necessários à obtenção de empréstimos.
“Muitos dos documentos exigidos podem ser substituídos mediante consulta ao Cadin”, justificou o secretário de Reformas Econômicas.
O acesso aos dados fiscais será facilitado, de forma a melhorar os problemas de assimetria de informação – algo que, segundo Marcos Pinto, é um dos principais problemas do crédito brasileiro. A ideia é criar formas de compartilhamento de informações que o governo já possui, para verificar se as informações prestadas aos bancos estão corretas.
“Os bancos não têm as informações necessárias sobre os tomadores de empréstimo, e é natural que assim seja. Temos o sistema de cadastro positivo, mas não tem o nível de informação que gostaríamos, porque é relativamente novo. Obviamente, isso nunca será feito sem o consentimento do titular dos dados, que são cidadãos”.
Novos bancos e moeda digital
Segundo o secretário, o governo está encaminhando ao Congresso um projeto de lei que facilitará o processo de autorização das instituições financeiras no Brasil, eliminando as exigências burocráticas criadas na década de 1960.
“Hoje há muito espaço para desburocratizar e, com isso, agilizar o processo de autorização das instituições financeiras. A consequência disso é mais competição no setor bancário, que ainda é muito concentrado. Ao permitir a entrada de mais instituições financeiras neste mercado, vamos atacar um dos principais elementos do spread bancário (diferença entre a taxa a que o banco capta dinheiro e a taxa cobrada ao cliente), que é a margem dos bancos. A concorrência é o melhor remédio para reduzirmos o spread bancário no Brasil”, argumentou.
Ainda sobre o sistema financeiro, o secretário disse que falta um marco legal para a emissão da “moeda digital soberana” pelo Banco Central, problema que poderia ser resolvido dando competência à autoridade monetária para lançar o Verdadeiros Digitais.
lidar com crises
O governo pretende adotar um regime de resolução bancária para melhorar as condições de enfrentamento de eventuais crises no sistema financeiro. Segundo Marcos Pinto, a ideia é pedir urgência na tramitação do PL 281/2019, que precisará ser adaptado para dar melhores condições de modernização do sistema que trata da intervenção e liquidação de instituições financeiras.
Marcos Pinto vê, nesta medida, “importância central” no âmbito do sistema financeiro nacional, uma vez que esta preocupação não deve ocorrer apenas em momentos de crise.
“Precisamos de um regime jurídico que esteja pronto para enfrentar as crises quando elas surgirem e que trate adequadamente sobre como intervir, estabilizar e liquidar uma instituição financeira em crise. Isso tem consequências muito positivas para o crédito hoje, mesmo que não estejamos passando por um momento de crise”, argumentou.
cooperativas de seguros
Na avaliação do secretário, o Brasil tem “baixa densidade e capilaridade do mercado nacional de seguros”. Ele avalia que há um grande potencial nesse setor, por isso defende a redução das barreiras de entrada para as empresas do setor e a ampliação da oferta para perfis de consumidores em segmentos de menor porte.
Nesse sentido, o governo apresentará um projeto que visa permitir que as cooperativas de seguros operem em outros ramos de seguros, além dos já permitidos. A medida pretende ampliar a oferta de seguros para diferentes perfis de consumidores; e estimular a competitividade e o desenvolvimento desse mercado.
Para Marcos Pinto, será necessário um aprimoramento legal para reforçar a proteção do segurado. Na avaliação do secretário, “com a população confiante, vai investir mais em seguros”.