Orçamento para ações da primeira infância sobe 38,3% em 2023
Após anos de estrangulamento, o orçamento para ações para a primeira infância (crianças de até 6 anos) foi ampliado em 2023. Segundo relatório enviado com exclusividade ao Agência Brasil pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF) do Ministério do Planejamento, a verba passou de R$ 19,606 bilhões no ano passado para R$ 27,109 bilhões neste ano, um aumento de 38,3%.
“O relatório mostra que há um esforço do governo para garantir a materialidade das políticas públicas para enfrentar alguns dos maiores problemas enfrentados por esse público no Brasil: a pobreza e os riscos a ela associados, como mortalidade infantil, desnutrição crônica e atrasos na educação física e desenvolvimento mental. propriedade intelectual”, destacou a SOF no documento.
Na divisão por pastas, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social lidera o Orçamento, com R$ 14,9 bilhões disponíveis (54,97% do total). Em seguida vêm os Ministérios da Saúde, com R$ 9,612 bilhões (35,46%); e Educação, com R$ 2,552 bilhões (9,41%). O restante está distribuído nas seguintes pastas: Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (0,07%), Ministério da Justiça e Segurança Pública (0,06%), Ministério da Mulher (0,03%) e Ministério dos Povos Indígenas (0,003%).
Outros três ministérios – Igualdade Racial, Cultura e Esporte – informaram ao Ministério do Planejamento que não houve programa orçamentário para a primeira infância no atual exercício. No governo anterior, essas secretarias foram incorporadas a ministérios que implementavam políticas para a primeira infância.
Em relação às agendas elencadas no Plano Plurianual (PPA) como prioritárias, as ações vinculadas ao Bolsa Família (e ao antigo Auxílio Brasil) lideram os orçamentos em 2023, com 52,87% dos cerca de R$ 27 bilhões. As ações de promoção da cidadania concentram R$ 8,544 bilhões (31,52%) e as voltadas à inclusão social respondem por R$ 5,789 bilhões (21,35%). Em terceiro lugar, vem a agenda de atenção especializada à saúde, com R$ 5,495 bilhões (20,27%).
Evolução
Devido a mudanças na estrutura dos ministérios e na nomenclatura dos programas, não é possível comparar a evolução de 2022 a 2023. Porém, em dois ministérios que não se fundiram ou se desfizeram na mudança de governo, é possível traçar a evolução do orçamento para a primeira infância em relação ao valor executado no ano passado.
No Ministério da Saúde, o orçamento para 2023 destina R$ 9,612 bilhões para ações voltadas à primeira infância, um aumento de 37,5% em relação aos R$ 6,992 bilhões gastos em 2022. O Ministério da Educação tem R$ 2,552 bilhões neste ano, 72,4% a mais do que os R$ 1,48 bilhão executados em 2022. No caso do Ministério da Cultura, que não tem recursos previstos para este ano, não houve execução no ano passado pelo Ministério do Turismo, ao qual estava subordinado o ex-secretário de Cultura .
Execução
A Secretaria de Orçamento Federal também analisou a execução orçamentária das ações para a primeira infância em 2022. No ano passado, o governo pagou R$ 18,719 bilhões dos R$ 19,606 bilhões previstos no Orçamento, o equivalente a 95,47% da previsão.
Embora alto, alguns programas registram baixa execução. No Ministério da Cidadania, responsável pelas políticas sociais no governo anterior, o Programa de Segurança Alimentar e Nutricional gastou R$ 4,8 milhões, pouco mais da metade (51,6%) do orçamento total de R$ 9,3 milhões. O programa voltado para a educação infantil gastou R$ 178,44 milhões, 35,5% de um total de R$ 502,28 milhões.
No Ministério da Saúde, o Programa de Vigilância em Saúde, que tinha orçamento de R$ 677,5 milhões, gastou R$ 314,5 milhões (46,4%). No antigo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, não houve destinação de recursos para políticas de apoio à implantação de núcleos de atendimento à mulher, de um orçamento total de R$ 590 mil.
Nas ações de fomento à Política Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, os gastos com a primeira infância somaram apenas R$ 80 mil, 17% de um orçamento de R$ 470 mil. Entre as atribuições desse programa estão o combate ao tráfico de pessoas, a classificação da programação indicativa e a democratização do acesso à justiça e à cidadania.
Mesmo com algumas restrições, o relatório mostra avanços ao avaliar a “execução física” (entrega de resultados). O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) já atendeu mais de 7 milhões de alunos em creches e pré-escolas. Entre as crianças indígenas, 40% dos bebês até 1 ano tiveram acesso a consultas de crescimento e desenvolvimento e quase 90% das crianças até 5 anos tiveram seu estado alimentar e nutricional monitorado. Atualmente, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) na escola atende 82.500 crianças de até 6 anos.
desafios
O documento aponta alguns desafios para o Ministério do Planejamento identificar, no emaranhado do Orçamento, as ações e eixos específicos relacionados à primeira infância. Para reduzir as distorções causadas por ações orçamentárias com grandes volumes de recursos, dos quais apenas uma fração das despesas é destinada à área, o relatório calculou o orçamento total do programa ponderado pela participação de crianças de até 6 anos na população brasileira.
O peso dessa faixa etária foi calculado com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do quarto trimestre de 2022. Esse método foi utilizado para estimar o gasto total com a primeira infância em gastos classificados como não exclusivos (não restritos ao primeiro infância) e de natureza difusa (sem natureza específica). “Isso vai ao encontro das conclusões de diversos estudos que mostram como a garantia de direitos para a faixa etária de 0 a 6 anos é fundamental para o desenvolvimento humano”, destacou a pasta.
Enquadramento jurídico
Definida como política pública para os seis primeiros anos de vida, a primeira infância obedece a um marco legal específico. De acordo com o PPA 2020–2023 e as Leis de Diretrizes Orçamentárias de 2021, 2022 e 2023, essas ações são classificadas como prioridades orçamentárias.
Além da importância destacada no Orçamento, três dispositivos legais orientam a elaboração de uma agenda “transversal e multissetorial” (que abrange vários ministérios). O primeiro é o Lei 13.257/2016que estabelece diretrizes e parâmetros para avaliação de políticas públicas para a primeira infância.
Em 2021, ou Decreto 10.770 instituiu a agenda transversal, especificando os ministérios participantes e sua responsabilidade no fornecimento de informações e resultados de políticas. No ano passado, um portaria do antigo Ministério da Economia regulamentou a apresentação de informações e a classificação das despesas.