Para Campos Neto, inflação não é a única razão para juros altos

Para Campos Neto, inflação não é a única razão para juros altos

Em meio a questionamentos sobre a política de juros altos implementada pelo Banco Central (BC), o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse que os elementos que corroboram esse aumento vão além da inflação. Segundo ele, a definição da taxa de juros é consequência de fatores que não se limitam à inflação, entre eles o fato de a dívida bruta do governo ser elevada, acima da média internacional.
“É o endividamento alto que faz os juros altos”, disse o presidente do BC. Outras causas para os juros altos apontadas pelo economista são o baixo índice de recuperação de crédito dos bancos, já que a inadimplência, segundo ele, é alta; a baixa taxa de poupança; e percepção de risco. O presidente do BC participou, nesta terça-feira (25), de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e afirmou ainda que critérios técnicos prevalecem sobre os políticos nas decisões do BC.

Inflação

“Observamos a inflação atual; as características dessa inflação corrente; o aspecto qualitativo da inflação; o que pode ser extraído da inflação corrente em termos de expectativas futuras; e a capacidade do país crescer sem gerar inflação”, disse Campos Neto.

Com relação às expectativas de inflação, o sistema de metas tem, segundo ele, um papel relevante ao permitir que as pessoas reajustem os preços com base nessas expectativas. Por isso, acrescentou, “temos que ter certeza de que as expectativas de inflação estão dentro da meta, ancoradas”.

Avaliações

Uma das críticas mais enfáticas foi feita pelo senador Cid Gomes (PDT-CE), que chegou a usar uma lousa para apresentar uma comparação entre a inflação e os juros praticados nos Estados Unidos e no Brasil.

“Em 2022, a inflação nos EUA estava em 6,5%, enquanto a taxa de juros estava em 4,5%. No Brasil, a inflação foi de 5,8% enquanto a taxa de juros foi de 13,75%. Não há razão para essa diferença”, disse o senador.

Gomes acrescentou que metade da dívida do país está atrelada à taxa básica de juros, a Selic. “Se o Brasil tivesse adotado a mesma taxa de juros dos Estados Unidos, teria economizado R$ 510 bilhões. Isso é dinheiro que infelizmente cai na conta de quem já tem. Neste caso, o rentista. Isso é brincar de Robin Hood ao contrário, tirando dinheiro dos pobres para concentrá-lo nas mãos dos ricos”, argumentou.

Para mostrar o que representa esse valor, que, segundo ele, poderia ser economizado, Gomes lembrou que o programa Bolsa Família tem orçamento de R$ 170 bilhões. “Triplicaria o valor atual. Seria o suficiente para construir 3,6 milhões de habitações populares por ano, o que, em dois anos, resolveria o problema do déficit habitacional do país”, acrescentou.

“Também seria suficiente para construir 134.000 escolas por ano. Isso universalizaria, em 3 anos, a infraestrutura necessária para todas as matrículas em tempo integral. Para se ter uma ideia, se você aumentar o salário mínimo em 10%, o impacto para o governo seria da ordem de R$ 28 bilhões. Num cálculo simples, o valor total aumentaria o salário mínimo em 180%, chegando a R$ 4 mil”, completou.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que, infelizmente, quem paga o grande dinheiro público gasto com juros “são os pobres”. Ele então perguntou ao presidente do BC se ele concorda com essa afirmação.

Campos Neto disse que concordava, depois corrigiu: “Os juros altos fazem o custo para toda a economia, inclusive para os pobres. Também recai sobre o emprego”, acrescentou.

Foto de © Foto Lula Marques/ Agência Brasil
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