Para presidente do BC, barulho com o governo afeta projeção de inflação
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira (22) que divergências públicas entre a autoridade monetária e o governo federal estão entre os fatores que mantêm as expectativas de inflação elevadas. “Os ruídos entre o governo e o Banco Central geraram incertezas quanto à capacidade do Banco Central de atingir seus objetivos”, disse ele em palestra promovida pelo jornal Folha de S. Paulo.
Além disso, segundo Campos Neto, há incerteza no mercado sobre a possibilidade de mudança da meta de inflação. “O componente de incerteza da meta é predominante, precisamos ver como isso vai se desenvolver. Mas, acho que temos elementos para começar a ver essa expectativa de inflação cair”, acrescentou.
No entanto, o Boletim Focus desta segunda-feira traz uma redução na projeção de inflação do mercado financeiro pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que caiu de 6,03% para 5,8% neste ano. Para 2024, a projeção de inflação era de 4,13%. Para 2025 e 2026, as previsões são de 4% para os dois anos.
O presidente do BC diz acreditar que a elevação da meta de inflação não traria efeitos positivos. “Mudar a meta agora para cima não geraria flexibilidade (para a política fiscal do governo)”, afirmou. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação é de 3,25% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 1,75% e o limite superior é de 4,75%.
O CMN é formado pelos Ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo Presidente do Banco Central.
harmonia
Apesar de defender que política monetária e política fiscal devem ter “harmonia”, Campos Neto destacou que as ações do governo e do Banco Central têm diferenças importantes. “É importante separar o ciclo político do ciclo econômico. Precisamos ter harmonia entre os aspectos fiscais e monetários, mas nem sempre têm o mesmo ciclo. Intertemporalmente, os ciclos são diferentes. O tempo de efeito é diferente”, disse.
O presidente do BC disse ainda não ver problemas em que a atuação da autoridade monetária sofra críticas, como já fez várias vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O presidente tem o direito de entrar em um debate sobre taxas de juros que está ocorrendo em vários outros países”, ponderou ao ser questionado sobre o assunto.
Campos Neto, porém, defendeu a ação do Banco Central, principalmente no ano passado, quando a taxa básica de juros foi elevada para conter a inflação. “Se não tivéssemos autonomia, o período eleitoral brasileiro teria mais volatilidade nos mercados. Obviamente, é difícil provar isso ”, disse ele.