Pequenas empresas respondem por 85% das contratações em fevereiro
Foi como descobrir a arte. Mas não foi da noite para o dia que o maranhense Ricardo Silva Carvalho, 41 anos, nascido em Sambaiba (MA) e radicado em Brasília há quase 20 anos, aprendeu a fazer sushi. “Demorei um ano e as aulas eram no restaurante onde eu trabalhava”. ele se tornou chefe de cozinha.
Durante a pandemia, passou a prestar um serviço para complementar a renda: entrega de comida japonesa na casa das pessoas. Ele salvou tudo o que pôde. Deu tão certo que o sonho se tornaria realidade em 2023. “Abri minha própria comida rápida sushi com minha esposa este ano.” O casal contratou seis funcionários.
De acordo com levantamento de Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Micro e Pequena Empresa (Sebrae)com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a história da empreitada de Ricardo e Patrícia está longe de ser um caso isolado. Esse tipo de empresa foi responsável pela criação de 85% das vagas geradas em fevereiro.
Em números absolutos, foram 206.697 vagas (85% dos 241.785 novos empregos gerados).
Para o economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB), as vagas geradas pelas pequenas empresas reduzem a concentração da economia. Ele explica que esse tipo de negócio ajuda a capilarizar os circuitos econômicos e tende a desconcentrar a riqueza.
“Além disso, essas oportunidades tendem a absorver uma força de trabalho que depende menos de tecnologia. Por isso é tão importante que programas de incentivo sejam oferecidos às pequenas e médias empresas”, considera o economista. Essas vagas também são geradas mais perto das casas das pessoas.
Na opinião da professora de economia Juliana Bacelar, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o levantamento destaca o peso das pequenas empresas na geração de empregos, que é maior nos serviços do que no comércio.
Segundo o Caged, o setor de serviços foi o que mais contratou: foram 135.238 vagas em fevereiro. Em seguida vem a indústria de transformação, que respondeu por 37.429 empregos; enquanto a construção teve 22,6 mil novos empregos gerados. O comércio teve saldo negativo (-1.344 novos empregos).
“Não é por acaso que, quando falamos dos segmentos que estão movimentando a economia, é o setor de serviços porque é onde eles estão, de fato, mais presentes e contratam mais. Os setores que mais crescem são alimentação e educação. Acho que reflete muito o movimento da dinâmica econômica. Mas o comércio não está decolando em termos de atividade econômica”.
recuo
As médias e grandes empresas tiveram saldo negativo pelo segundo mês consecutivo, com mais demissões do que contratações. No acumulado de 2023, dos 326.356 novos empregos gerados, 83% foram em micro e pequenas empresas (MPEs).
Para o Sebrae, os dados atestam a importância dos pequenos negócios para a economia nacional, que gera renda e contribui para a garantia da cidadania de milhares de pessoas e suas famílias. “Falar de desenvolvimento econômico e social é falar de micro e pequenas empresas”, destacou o presidente da entidade, Décio Lima.
Os dados seguem o histórico que já se mostrava promissor no ano passado, quando, para cada dez empregos gerados no Brasil, cerca de oito foram criados por micro e pequenas empresas.
O resultado acumulado no ano ultrapassou 2 milhões de novos postos de trabalho, sendo quase 1,6 milhão de empregos em pequenas empresas: cerca de 78,4% do total. Em 2021, a participação das MPEs no saldo total foi de 77%. A média é maior em 2023 (83% do total).
Investimento
No caso do restaurante de sushi, o casal está otimista. “Está indo melhor do que o esperado. Achamos que, em um ano, conseguimos ter o retorno do nosso investimento”, afirma a sócia e esposa Patrícia Souza Moreira, 44 anos. O casal estima que inicialmente investiu cerca de R$ 50 mil no negócio. Eles também têm um caminhão de comida viajando com o mesmo tipo de comida. “Prevemos poder abrir um segundo restaurante até ao final do ano”, afirma Patrícia Moreira.
A boa notícia também é para seus funcionários. O homem de sushi Luiz Carlos Pereira, 37, conta que, durante a pandemia, ficou um ano desempregado. Ele tem três filhos. “Eu estava vivendo de biscates. Por fim, consegui um emprego ‘fichado’ (com registro na carteira de trabalho) fazendo o que gosto. É gratificante”.
O arroz, o salmão, as algas e os peixes com que lida todos os dias ganharam um novo começo.