Pesquisadora defende revisão do Fundo de Participação dos Municípios

Pesquisadora defende revisão do Fundo de Participação dos Municípios
Pesquisadora defende revisão do Fundo de Participação dos Municípios

Os resultados do Censo 2022, divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram uma forte redução no ritmo de crescimento da população brasileira. Nos últimos 12 anos, o número de habitantes no país saltou de 191 milhões para 203 milhões.
No entanto, desde o Censo de 2010, a taxa média de crescimento anual é de 0,52%, a menor da história. Nesse cenário, um grande número de municípios registrou declínio populacional. A depender da variação, a redução impacta o valor a ser recebido do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), o que vem gerando uma série de reações políticas de diversos atores.

Ricardo Ojima, pesquisador do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), observa que a insatisfação é manifestada sobretudo por representantes de cidades pequenas, mesmo em capitais como Salvador, Natal, Belém, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Rio de Janeiro se inscreveram redução da população. Ele acredita que o modelo está esgotado.

“As capitais e os grandes municípios dependem pouco da distribuição do FPM. O maior impacto está nos municípios menores, cujos orçamentos dependem mais do repasse do fundo em termos proporcionais. Como o crescimento populacional no Brasil está em processo de estabilização, é certo que muitos municípios começarão a perder população, com exceção daqueles que conseguem atrair determinados movimentos migratórios. Essa é a tendência geral e isso já é conhecido há muito tempo”, diz.

Segundo Ojima, é preciso pensar em novos formatos de distribuição que levem em conta outros fatores, diminuindo o peso do número de habitantes no cálculo. “O que precisamos começar a debater é que o modelo FPM assume praticamente que a população vai crescer infinitamente. A partir de agora é sempre saltar para o coeficiente mais baixo”.

O Brasil costuma realizar o Censo Demográfico a cada dez anos. É a única pesquisa domiciliar que abrange todos os municípios do país. As informações coletadas subsidiam a elaboração de políticas públicas e decisões relacionadas à alocação de recursos financeiros. O Censo 2022 deveria ter ocorrido em 2020, mas foi adiado duas vezes: primeiro por causa da pandemia de covid-19 e depois por adversidades orçamentárias.

Com os atrasos, a distribuição do FPM, que leva em consideração os dados populacionais calculados no censo, estava sendo feita aos municípios ainda com base no levantamento de 2010. Renda (IR) e com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Segundo dados do Tesouro Nacional, em 2022 foram distribuídos 146,3 bilhões. Do total, 10% são destinados às capitais e 3,6% aos municípios do interior com mais de 142.633 habitantes.

Os 86,4% restantes do fundo são distribuídos entre cidades com menos de 142.633 habitantes. Para essa distribuição, os dados do último censo são encaminhados pelo IBGE ao Tribunal de Contas da União (TCU), que por sua vez fixa o coeficiente para cada município. É calculado aplicando uma metodologia definida por lei, que também leva em consideração a receita. per capita.

O TCU chegou a publicar, no final do ano passado, novos coeficientes com base na estimativa anterior do Censo 2022 divulgada pelo IBGE. No entanto, vários municípios foram a tribunal e obteve decisão favorável no Supremo Tribunal Federal (STF). O tribunal proibiu qualquer atualização sem os dados finais do Censo de 2022.

Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apresentado na última quinta-feira (29), um dia após a divulgação dos resultados finais pelo IBGE, os novos números baixam o coeficiente de 770 municípios e aumentam o de 249. “Aproximadamente 61% dos municípios dos estados do Amazonas e Rondônia perderam coeficientes, seguidos pelos municípios do Amapá (33%), Pará (33%) e Alagoas (32%). coeficientes perdidos, enquanto o percentual do Nordeste é de 18%; para o Centro-Oeste e Sudeste, 11%; e para o Sul, 8%”, informou a CNM em nota.

Os impactos no orçamento desses municípios, porém, não serão imediatos porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, também na semana passada, a Lei Complementar 198/2023. Cria um longo processo de transição para reduzir as transferências relacionadas ao FPM. A cada ano, o município perderá 10% do total que deveria ser subtraído com base no novo coeficiente. Assim, somente após dez anos, o valor estará 100% atualizado de acordo com os dados populacionais coletados. Esta regra de transição deve ser observada sempre que um novo censo for realizado.

Segundo nota divulgada pelo governo federal, a mudança evita quedas bruscas de arrecadação que comprometam a continuidade das políticas públicas. A Lei Complementar 198/2023 não atinge os municípios que tiveram salto no coeficiente, garantindo o aumento de seu orçamento normalmente, sem qualquer período de transição.

Dados confiáveis

Ao divulgar a pesquisa, a CNM questionou a qualidade dos dados do Censo de 2022. Na segunda-feira (3), o IBGE emitiu nota, garantindo a “confiabilidade indiscutível” do resultado divulgado. Em suas redes sociais, o pesquisador Ricardo Ojima criticou a falta de confiança nas instituições e defendeu o trabalho do IBGE, lembrando que todos os censos enfrentam algumas dificuldades. “Mesmo que haja problemas, existem técnicas para evitar possíveis distorções”, disse ele.

O argumento da CNM se baseia na diferença entre os 203 milhões de habitantes apontados pelo Censo de 2022, os 207 milhões calculados pelo IBGE em prévia divulgada em dezembro do ano passado, e os 2013 milhões estimados em 2021 com base em projeções demográficas. “Desvios muito acentuados entre a população estimada e efetiva indicam erros nas estimativas, com graves consequências para a gestão municipal”, acrescentou a confederação.

No comunicado, o IBGE informa que realizou o Censo 2022 seguindo rigorosamente as recomendações, parâmetros e protocolos estabelecidos pela Divisão de Estatística da ONU. Afirma ainda que esta foi a edição mais tecnológica e com maior monitoramento e análise em tempo real da história do Brasil, com acompanhamento e controle de qualidade minuciosos. Além disso, o IBGE informa que especialistas independentes, com chancela da ONU, foram chamados para avaliar os resultados, e o parecer será publicado em breve.

“Durante a coleta, foram captadas com sucesso as coordenadas GPS dos endereços visitados, bem como as rotas utilizadas pelos recenseadores nos setores censitários. Esse avanço permitiu o monitoramento contínuo da operação e garantiu maior controle da cobertura. também com um arrojado sistema automático de supervisão, que previa a verificação em campo de uma amostra de endereços selecionados. O principal objetivo desta fiscalização foi garantir a cobertura da operação, a correta classificação dos domicílios (ocupados ou não ocupados), além da qualidade do preenchimento dos questionários”, acrescenta o texto.

Ao divulgar os resultados do Censo 2022, o presidente do IBGE, Cimar Azeredo, afirmou que diferença em relação à população estimada. Ele lembrou que, geralmente, uma contagem populacional é feita no meio da década para evitar esse tipo de defasagem, o que não ocorreu em 2015. Embora seja uma operação mais simples que o censo, o governo federal afirmou, na época , que não havia recursos para financiá-lo. A contagem já em 2025 é defendida tanto pelo IBGE quanto pela CNM.

Tendência

Segundo Ricardo Ojima, embora os dados revelem um crescimento populacional consideravelmente menor do que o indicado pelas estimativas anteriores, eles não surpreendem. Isso porque os censos das décadas anteriores, assim como as taxas de natalidade, já vinham mostrando uma tendência de queda no ritmo de crescimento.

“Estudos de dinâmica demográfica já anunciavam que em algum momento, ainda antes de meados deste século, o ritmo de crescimento populacional se estabilizaria no Brasil, e o país entraria em declínio. Talvez este momento esteja sendo antecipado por vários motivos. Precisamos aguardar a divulgação dos dados mais completos do Censo 2022 para entender e avaliar”, observa.

A pesquisadora não descarta alguma influência das crises de saúde nos dados demográficos. O impacto que a pandemia de covid-19 teve na taxa de mortalidade ainda precisa ser melhor avaliado. Também podem ter ocorrido efeitos sobre a natalidade, com possível adiamento do plano de ter filhos por muitas famílias. Ricardo Ojima lembra que alguns estudos já apontavam redução da natalidade em diferentes estados em 2016, durante a crise do zika. A doença, transmitida por picadas de mosquito Templos dos egípciospode levar ao desenvolvimento de microcefalia em bebês de vítimas grávidas.

Foto de © Agência Brasil
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