Prefeitura do Rio cria ISS Neutro para incentivar o crédito de carbono

Prefeitura do Rio cria ISS Neutro para incentivar o crédito de carbono

A cidade do Rio de Janeiro concederá incentivos fiscais para que empresas da cadeia de crédito de carbono se instalem na capital. A Lei do Imposto Neutro sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), de autoria da Prefeitura, foi sancionada nesta segunda-feira (12) pelo prefeito Eduardo Paes, que estava acompanhado da secretária de Fazenda e Planejamento, Andrea Senko, e do secretário de Economia Desenvolvimento, Inovação e Simplificação, Chicão Bulhões (foto).
Segundo cálculos da prefeitura, o fomento chegará a R$ 60 milhões por ano. O valor pode ser abatido do ISS para compradores de créditos de carbono. Se considerarmos os dados de 2021, o total equivale a 1,2% dos cerca de US$ 1 bilhão negociados no mercado voluntário global de carbono.

De acordo com a lei, a alíquota do ISS incidente sobre as atividades de desenvolvimento e auditoria de projetos de crédito de carbono será reduzida de 5% para 2%. Também estão incluídas “as atividades de registro de créditos de carbono e fornecimento de plataformas para transações de créditos de carbono”.

A nova legislação é temporária e vigorará até o final de 2030. A eficiência e a eficácia dos benefícios concedidos serão avaliadas anualmente, de acordo com critérios e metas anuais de desempenho.

Para o secretário de Fazenda, essa é mais uma das ações que reforçam a vocação do Rio de ser a capital verde do país. “Com a criação do ISS Neutro, nosso objetivo é incentivar a instalação do mercado de créditos de carbono na cidade do Rio e também que outras empresas se disponham a neutralizar as emissões de carbono”, destacou.

Segundo Eduardo Paes, a prefeitura tem feito um esforço permanente para identificar as vocações naturais da cidade. “Buscamos identificar todos os setores da economia, quando trazemos um Web Summit (considerado o maior evento de tecnologia do mundo), quando temos uma legislação estimulando a inovação, porque entendemos que uma parte importante e significativa da inteligência brasileira está aqui em O Rio de Janeiro, que tem uma enorme capacidade de inovar”, disse durante a cerimônia.

Para ele, até mesmo o setor de petróleo e gás pode se beneficiar da legislação ISS Neutral. “Não tenho dúvidas de que esse é um setor que a cidade precisa incentivar, precisa incentivar o Rio como capital da energia”, completou.

Segundo o prefeito, o meio ambiente carioca é um bem econômico. “Pessoas e empresas decidem morar e investir no Rio de Janeiro pelo seu patrimônio econômico, ou decidem não morar e não investir se esse patrimônio não for tratado adequadamente”, afirmou.

A aplicação da Lei Neutra do ISS permitirá o alcance das metas traçadas no Plano Estratégico Rio 2021-2024. A previsão é que a medida também ajude a atingir as metas do Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ações Climáticas, neutralizar a emissão de gás carbônico – de 5% até 2024, de 20% até 2030, em relação a 2017, e ser carbono neutro até 2050.

O secretário Chicão Bulhões informou que a Prefeitura publicará o edital em julho com as regras de como as empresas podem solicitar a isenção.

“Nesses R$ 60 milhões, a gente espera ter várias atividades e empresas de qualquer setor, seja direito, petróleo e gás, qualquer atividade econômica, (para que ela) pague o ISS do município e vá ao mercado fazer essa compra de crédito de carbono. Você pode, apresentando suas certidões nas secretarias da Fazenda ou de Desenvolvimento Econômico, fazer sua redução de até R$ 3 milhões”, disse o secretário.

O secretário acrescentou que a medida atende tanto as empresas que pagam esse imposto já instaladas na capital, quanto as que ainda estão chegando na cidade. Bulhões informou que a empresa limpa ganha com a colocação dos créditos na plataforma do Rio de Janeiro, e para isso o projeto tem que ser na cidade, porque a prefeitura quer reduzir as emissões locais.

“Essa empresa vai colocar isso nessas plataformas e aí obviamente estamos criando um incentivo para o poluidor comprar os créditos desse projeto. Estamos incentivando as duas pontas a entrar nesse mercado de crédito de carbono”, destacou.

Bulhões acrescentou que os organismos de certificação aceitos pela prefeitura e que já são conhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e organismos internacionais serão incluídos no regulamento. “Não vamos aceitar nenhuma aventura, porque sabemos que neste setor ainda há muita gente tentando fazer o que se chama lavagem verde, que são operações que não são exatamente não poluentes e acabam se beneficiando de alguma coisa. Vamos colocar no regulamento exatamente quais certificados vamos aceitar, pode ser mais de um, mas vamos seguir os padrões internacionais.”

Para Suzana Khan, vice-diretora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não há dúvidas quanto aos riscos do aquecimento global e, por ter liderado a agenda do clima com a conferência mundial do clima em 1992, o Rio de Janeiro deve ter um papel de destaque.

“O que a cidade do Rio faz repercute no mundo todo. Ter medidas inovadoras como esta envia um sinal muito importante de todas as formas que podemos tomar para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Quando você oferece uma vantagem econômica, como incentivos fiscais, você faz com que as atividades migrem para aquelas de menor impacto ambiental”, destacou.

*Colaboração de Tatiana Alves, do Radiojornalismo

Foto de © Beth Santos/Prefeitura do Rio
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