Queda da inflação é mais lenta do que o esperado, diz Campos Neto

Queda da inflação é mais lenta do que o esperado, diz Campos Neto
Queda da inflação é mais lenta do que o esperado, diz Campos Neto

A queda da inflação está mais lenta do que o esperado, disse nesta quarta-feira (19) o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Segundo ele, a inflação cheia está caindo, mas o núcleo (que exclui preços mais voláteis) recua mais lentamente.
“A desinflação no país está mais lenta do que esperávamos. É consenso nos bancos centrais que o trabalho ainda não está concluído. Tem que ser persistente”, disse Campos Neto em reunião do European Economics & Financial Centre, em Londres. O presidente do BC está em viagem ao Reino Unido, e o encontro foi transmitido virtualmente.

Segundo Campos Neto, a inflação plena pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continua caindo por causa das isenções decididas no ano passado. No entanto, o núcleo da inflação segue elevado, mesmo com os juros básicos no maior patamar em seis anos.

“O índice de inflação cheio está muito poluído pelas mudanças tributárias que estão ocorrendo, então quando olhamos para o núcleo, está em torno de 8%, o que ainda é muito alto. Em termos de hiato do produto (uma medida de quanto a economia produz menos do que a capacidade), não vemos mudança, mesmo que a economia esteja desacelerando”, declarou.

Expectativas

Segundo Campos Neto, o Banco Central está mais preocupado com as expectativas de inflação, principalmente para 2025 e 2026. Ele explicou que o BC projeta IPCA de 5,8% em 2023, 3,6% para 2024 e 3,2% para 2025. Apesar da queda, Campos Neto destacou, as expectativas apontam para inflação acima do centro da meta.

“Quando olhamos para nossas projeções, temos 5,8% (para o IPCA) para 2023 e 3,6% para 2024, 3,2% para 2025 e, obviamente, temos um contexto de números melhores, mas ainda longe da nossa meta. Sempre falamos que a decisão é baseada em três dimensões de dados, olhamos a inflação corrente, o hiato do produto e as expectativas (de inflação)”, destacou.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece meta de inflação de 3,25% para 2023 e 3% para 2024 e 2025. Em todos os anos, há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, mais ou menos. Segundo o presidente do BC, parte do aumento das expectativas para o longo prazo se deve aos ruídos causados ​​pela mudança de governo.

“Há uma pergunta sobre por que temos expectativas de inflação crescentes de médio e longo prazo se as surpresas de inflação de curto prazo são positivas. Acho que a questão aqui é que se criou algum ruído na mudança de governo; quando olhamos porque a inflação caiu no longo prazo, parte da explicação está relacionada ao pacote fiscal que foi aprovado (Emenda Constitucional de Transição) e parte ao governo falando em mudar as metas”, afirmou.

Estrutura fiscal

Campos Neto comentou o projeto de lei complementar ao novo marco fiscal, enviado nesta terça-feira (19) ao Congresso. Ele disse que considera o texto “bastante razoável”, mas que a avaliação final dependerá da celeridade do Congresso na votação do projeto e de eventuais alterações introduzidas pelos parlamentares. “Acho que foi uma boa indicação de que estamos nos movendo na direção certa.”

“Tínhamos o novo quadro fiscal, o texto foi enviado ontem, não tive tempo de ver todos os detalhes, mas parece estar em linha com o que eu tinha visto antes”, disse. Campos Neto, porém, disse não ver uma “relação mecânica” entre a aprovação da nova âncora fiscal e uma eventual queda dos juros.

O presidente do BC também comentou uma possível mudança nas metas de inflação e disse que o órgão é contra porque não resultaria em corte imediato dos juros e uma medida nesse sentido aumentaria o prêmio de risco Brasil.

“Achamos que não é uma coisa que o Banco Central decide (mas o governo). O mandato é muito claro”, comentou. Campos Neto acrescentou que um eventual aumento das metas passaria ao mercado a ideia de que o governo pretende flexibilizar a política monetária, mas admitiu que há membros da diretoria do BC que pensam diferente.

Foto de © Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
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