Regime tributário: relator inclui gatilho para descumprimento de regras

Regime tributário: relator inclui gatilho para descumprimento de regras

O deputado Cláudio Cajado (PP-BA), relator do projeto do novo marco fiscal (PLP 93/23), incluiu gatilhos para forçar cortes e contenção de gastos em caso de descumprimento da meta fiscal. O texto deve ser votado na quarta-feira (24) pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Chamada de Regime Fiscal Sustentável pelo relator, a proposta prevê que, em caso de descumprimento das metas, haverá contingenciamento (bloqueio) de despesas discricionárias. O texto de Cajado prevê a adoção, no ano seguinte ao descumprimento, de medidas automáticas de controle das despesas obrigatórias, como não conceder aumento real das despesas obrigatórias, suspender a criação de novos cargos públicos e suspender a concessão de benefícios acima da inflação .

Se o incumprimento se verificar pelo segundo ano consecutivo, serão acrescentadas novas proibições às já existentes, como o aumento de vencimentos na função pública, admissão ou contratação de pessoal e concursos públicos (nos dois últimos pontos, a exceção é para substituição de cargos vagos).

Medidas de controle

Nas situações em que as despesas obrigatórias superam 95% das despesas primárias (que excluem juros e amortizações), as medidas de controle também são acionadas automaticamente. Segundo Cajado, o reajuste real do salário mínimo ficará fora dos gatilhos, com aumento acima da inflação. A exclusão foi negociada com dirigentes dos partidos de base do governo e relatoria, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Inicialmente, havia também a previsão de retirar o Bolsa Família do limite de gastos. O deputado explicou que o benefício também estará sujeito a regras gerais para que seja reajustado acima da inflação. “Não disse que ia ser excepcional, (mas) que estava preservado. Excepcional foi em selar a sanção pelo descumprimento da meta, o salário mínimo”, disse o parlamentar.

Cajado também incluiu a possibilidade de o Poder Executivo solicitar a suspensão parcial de algumas das medidas, caso se verifique que as medidas mantidas são suficientes para compensar o descumprimento da meta. Para tanto, deve submeter um projeto de lei à análise do Congresso Nacional.

A previsão do relator é de que o texto seja aprovado por ampla margem dos deputados, com perspectiva de 464 votos favoráveis ​​ao texto. “Estamos criando uma regra de controle de custos aqui. A prioridade que o governo vai dar depende disso”, disse o deputado.

Novas regras fiscais

A proposta condiciona o aumento dos gastos do governo ao cumprimento de metas de resultado primário, buscando conter a dívida pública. Segundo o texto, a meta deve oscilar entre -0,25% a +0,25% do crescimento real da economia no ano anterior. De acordo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024, as metas para o próximo ano, 2025 e 2026, serão, respectivamente, 0,0%, 0,5% e 1,0% do Produto Interno Bruto (PIB), com faixa de 0,25%.

O texto enviado ao Congresso Nacional pelo governo prevê a limite de crescimento das despesas 70% da variação da receita nos 12 meses anteriores. Ou seja, se no período de 12 meses, de julho a junho, o governo arrecadar R$ 1 trilhão, poderá gastar R$ 700 bilhões.

Dentro desse percentual de 70%, haverá um limite superior e um piso, uma faixa, para a oscilação da despesa, descontando o efeito da inflação.

Em tempos de maior crescimento econômico, as despesas não podem crescer mais de 2,5% ao ano acima da inflação. Em tempos de contração econômica, os gastos não podem crescer mais de 0,6% ao ano acima da inflação.

Contas

Para evitar o descumprimento da meta de crescimento de 70% da receita, as novas regras introduzirão mecanismos de punição que desacelerarão os gastos caso a trajetória de crescimento das despesas não seja cumprida.

Se o resultado primário cair abaixo do limite inferior da banda, o crescimento das despesas do próximo ano cairá de 70% para 50% do crescimento da receita. Para não interromper os investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), o novo regime prevê um piso para esse tipo de gasto e permite que, caso o superávit primário fique acima do teto da faixa, o excedente seja destinado a obras públicas .

A equipe econômica esclareceu que o limite de 70% é baseado em receitas passadas, não em receitas futuras estimadas. Dessa forma, os futuros governos, ou o Congresso Nacional, não poderão aumentar artificialmente as previsões de receitas para aumentar as despesas.

*Artigo expandido às 11h51 para informações adicionais.

Foto de © Marcello Casal JrAgência Brasil
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